quarta-feira, 8 de abril de 2020

Uma agenda para a Europa, ou para o Mundo

Carlos A Pereira Martins
Former Member / Ex Conselheiro

European Economic and Social Committee  


Uma agenda para a Europa, ou para o Mundo: 
1º- Sentir fraterno; 2º - Sentir Solidário; 3º - Mutualização do futuro possível; 4º Um Plano Conjunto de Progresso e Entre-Ajuda Europeu


Declaração de interesse: são sete horas da manhã do dia 9 de Abril de 2019. E dormi tranquilo, sereno e sem  pesadelos ao acordar.

Pensamos e sentimos, talvez, demais.
Não seria assim se fossemos mais meio termo, um pouco mais mineral e um pouco menos animal. Pensaríamos e sentiríamos, talvez, menos.
E, por esta razão, talvez, sempre a minha falta de certezas expressa neste talvez, quando voltar a ler este texto, sinta que já não concordo com o que agora escrevo. No todo ou, talvez, de novo a falta de certezas, em parte.

Um momento importante na vida politica do dia de hoje foi protagonizado pela Ministra da Agricultura. Quando fez um forte e convincente apelo para que as pessoas, ao contrário da prática dos ultimas semanas de açambarcar enlatados que, na maioria dos casos irão resultar em refeições enjoativas, de sabor duvidoso ou em desperdícios que verão os prazos de valide ultrapassados pelo correr dos dias e dos acontecimentos, passem a comprar e consumir produtos frescos, frutas e legumes, no caso.

É um gesto politico do maior relevo.
Porque significa um impulso que poderá ser decisivo para duas coisas. O renascer de uma parte da actividade económica, dar alguma vida, oxigenar e dar alento aos circuitos de produção agro-alimentar e ao consumo desses produtos, assegurar alguma vitalidade no emprego, e, de outro modo, colocar um travão a algum açambarcamento ou compras à toa de produtos que pouco adiantam a não ser numa situação de total desespero, o que, felizmente, não é, pelo menos por cá e para já, o caso.

Talvez, e de novo esta minha falta de segurança ou certeza no que penso, amanhã já ache que isto deva ser revisto, alterado. Hoje, penso que as saídas, na Europa e no resto do Mundo, também, só poderão ser encontradas com êxito numa base de entre-ajuda, de muita solidariedade activa e de renuncia dos egoísmos que por muitos sítios se têm visto.

Mais do que um Plano Marshall para a Europa pós virus, será necessário um Plano Marshall, talvez por isso agora seja mais apropriado chamar-lhe um Plano Universal, baseado nessa entre-ajuda e solidariedade activa com renuncia clara dos impulsos egoistas e egocentristas, mas para todo o Planeta.

Hoje, sem certezas, repito, acredito que do ponto de vista epidémico, da saúde, as coisas se vão recompor e mais breve do que se esperaria há uma ou duas semanas. E em grande parte do globo.
Mas haverá situações que poderão vir a complicar-semuito. Mesmo do ponto de vista sanitário, claro. Exactamente pela falta estrutural desses requisitos solidários e de entre-ajuda, de alicerces sociais , de fragilidades dos sistemas sociais e de acesso à saúde e aos bens essenciais pela esmagadora parte da população, em caso de grande catástrofe como a que se vive.

Na visão que mais desejo, passaremos por enormes situações de crise económica, financeira e social. Mas, a pouco e pouco, tudo se irá normalizando. A muito pouco e pouco. Os cenários mais prováveis serão de crise e acompanhada  de enorme recessão e  depressão.

Terá que haver bom senso e muito tino para não juntar no cadinho um conflito militar  mais generalizado, o que tornaria tudo ainda mais complexo e duvidoso do ponto de vista da esperança tão necessária  e determinante.
Acredito que a verdade dos dias que correm estará algures bem guardada nos núcleos mais restritos e seguros dos mais fortes Serviços Secretos. E de lá não poderá sair sequer pitada. Para que um cogumelo gigante não se erga nos céus mais azuis e promissores deste  planeta amedrontado.

Mas há outros cenários, de economias até agora muito prosperas, dominantes, continentes inteiros que se acreditavam imunes à pobreza e caos generalizado, e que poderão não ter hipótese de o evitar. E pior se pode ainda recompor este puzzle. Mas, nisso, nesses cenários catastróficos e de desgraça, não quero nem falar nem ouvir prognosticar. Não significa que seja menos consciente que os demais, apenas para não trazer maus agoiros e não  vir perturbar a Esperança,  ela  que é tão necessária!

Esperança  tão necessária  como a existência de fortes e decididas lideranças europeias e mundiais, precisam-se em absoluto. Tanto como uma decisão urgente no sentido apontado da solidariedade e dos valores fraternos da construção europeia se precisa de uma decisão unanime do Eurogrupo quanto ás emissões de Divida Conjunta ou de um Plano Marshall que agora deverá esquecer o nome do seu predecessor e deverá ser um  Pano de Progresso e Ajuda Mutua Europeu.

Mas, reconheçamos, faltam lideranças, faltam Churdhills, Rooselvelts,  e De Gaulles.  Ainda se não fabricam em impressoras 3D !
O mais parecido com estes de que se dispõe, presentemente, na Europa e no Mundo, chama-se Antonio Costa e é Primeiro Ministro de Portugal. É a versão de Estado, das salas de concerto das grandes  orquestras sinfónicas, de musica e ambientes clássicos. E há, no entanto, uma versão também eficaz e que se quereria também replicavel, versão mais de consumo popular, de fácil acesso pelas populações, que leva conforto generalizado tal como o faz a aspirina, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. 

Creio, e não vou prosseguir com uma oração católica apesar da época pascal, no poder da musica e das palavras apropriadas nos corações de cada um de nós.
Voltando quase ao princípio, afinal, também nenhum homem ou mulher é só mineral. O sentir animal, a emoção,  conta e conta muito decisivamente, quase sempre.

Se eu fosse o Dr Mario Centeno, começaria o próximo Eurogrupo sem palavras, sujeitava toda aquela gente dos diferentes Estados Membros a uns minutos bem prolongados de audição da musica da Carmen, de Bizet, cantada pela Maria Callas.
E insistiria por largos minutos, ate que fosse bem interiorizada e se tornasse visível nos rostos mais fosseis, mais mineralizados. 
Não creio que esses minutos de audição da musica da Carmen e a voz de Maria Callas  não tivessem um impulso decisivo no despertar do que de solidário há com toda a certeza, aqui tenho certezas, nos corações de todos e cada uma das pessoas. Não uma Tosca, de Pucinni, que essa é mais de morte e cinzenta, a Carmen!

Claro que sei que há e haverá sempre uns quantos que, à custa de comprimidos ou já por deformação  dos aurículos, dos  ventrículos  e  das coronárias, se mostram distraídos, ou preferem fazer-se  longe da realidade e das fragilidades que os e nos rodeiam. Mas, esses, são franjas marginais. São  marginais em todo o sentido.

Depois, colocaria as propostas de novo na mesa. E. só depois, a votação. Voltando a frisar a importância do momento e a necessidade do sentir solidariedade, Just now!

E, talvez, para que esta Europa e este mundo possa reencontrar um caminho para um futuro que não será certamente aquele para onde nos dirigirmos, mas poderá, de certa forma, até vira a ser melhor, mais consistente e humano,  a Carmen, a voz da diva e o sentir de cada coração ali chamado à realidade e esquecendo egoísmos e agendas de poder pessoal  ou de grupos, pudessem vir a resultar.
  

O exemplo dado na manhã passada pela Ministra d Agricultura portuguesa, o incentivo à retoma da vitalidade dos circuitos mais simples por onde tem que voltar a correr o sangue que fará bombear e bater ritmado o coração das economias, alicerçado nos pressupostos que enunciei para o Plano de Progresso e Entre-Ajuda Europeu, tem que ser o ponto forte da agenda europeia já para hoje.

De contrário, mesmo sem o querer fazer, estarei a refazer este texto brevemente e com os cenários e narrativa que hoje nem por sombras quero tocar.
O assunto é sério, os dias tornaram-se de chumbo, as soluções de verdade muito prementes, a urgência tão necessária e actual como a solidariedade, o sentir fraterno, a mutualização dos nossos futuros colectivos. Todos eles.

Carlos Pereira Martins
(Economista, 9 de Abril de 2020)



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