terça-feira, 30 de novembro de 2021

MAIS MONTEPIO

                                                                         Mais Montepio



Agora escrevo na primeira pessoa do singular !



Depois de vinte e seis anos na melhor escola bancária que Portugal terá tido, o Banco de Fomento Nacional,  em Outubro de 1987 mudei-me a convite do Presidente Costa Leal para o Montepio.


Até hoje, estou plenamente convencido que a “transferência” foi acordada e preparada entre as duas únicas personalidades que muito respeito e a que continuo a referir-me sempre como “meus Presidentes”, pessoas integras, honestas e para quem o dinheiro, mesmo o argent de poche, pouco dizia. Mesmo sendo dois Banqeiros. 

São eles António da Costa Leal do Montepio Geral, casado com a viúva de Bento de Jesus Caraça, de quem foi Assistente em Económicas, e João Salgueiro, Presidente do Banco de Fomento Nacional.

Na despedida formal do Banco de Fomento, João Salgueiro disse-me mesmo que nada era definitivo. ele próprio tinha saído pouco tempo antes do Banco para exercer o cargo de Ministro das Finanças e regressara. Que se eu não me desse bem no Montepio, tinha ali sempre uma porta aberta para o retorno. Isto foi muito importante para mim, vindo de uma pessoa que sabia não sermos sequer da mesma área politica, mas muito nos respeitavamos.


Na primeira reunião com toda a Administração do Montepio Geral, tinha na cadeira da presidência, por baixo do quadro  de Vieira da Silva, Vitor Melicias que me disse logo de entrada que ele era apenas o Presidente e de Banca pouco sabia. Quem sabia de Banca e Finanças, e assim poderiamos falar a mesma linguagem, era o seu colega Costa Leal que teria o meu pelouro.

Foi uma excelente apresentação com Manuel Pina e Vasco Neves, também administradores e logo vi estar entre gente boa, bem formada e com valores que eram os meus.


No final da primeira semana na área financeira do Montepio, a minha secretária informou-me que tinha ao telefone o Dr Silva Ferreira, por acaso um viseense, director da Supervisão Bancária do Banco de Portugal. Anunciou-me que iria na semana seguinte  um grupo da Inspecção Bancária do  Banco de Portugal  para o Montepio e me pedia para lhes arranjar um gabinete para se instalarem.

Vindo o grupo da supervisão, o Chefe da missão pediu para o receber para me colocar ao corrente dos trabalhos que iriam realizar e obter o meu acordo. Assim foi feito. Durante a reunião perguntoume várias coisas e entre elas quantos economistas tinha ali no Mercado de Capitais, área muito efercescente na altura. Respondi-lhe que tinha um. Só não acrescentei que  “o um” era eu mesmo e que tinha chegado na semana anterior, vindo do Banco de Fomento.

Havia mais economistas na Direcção financeira mas integravam a área do Planeamento e Controlo de Gestão, no Mercado de Capitais, Títulos, bolsa e na Tesouraia, não.


Ao falar da  Tesouraria  corre-me a memória logo para um homem de enorme valor e competência, o Senhor Manhoso Marques, pendular  na gestão daquela Secção. Até eu ser nomeado Director Financeiro, assumia esse cargo uma pessoa de enorme valor que conhecia do Montepio tanto como qualquer administrador, o Senhor Júlio de Carvalho. Feito Director subindo a pulso, homem de grandes convicções, um humanista e um grande mutualista. Não tivera formação universitária mas  sabia  da “casa” como poucos e era respeitado por todos os seus pares e por todo o país. Quando eu assumi as funções foi nomeado Director da Área Mutualista e passados poucos anos faleceu. Era um dos do célebre Grupo das Azenhas do Mar, todos gente boa.


 

Desde as primeiras conversas a sós com o Presidente Costa Leal que o fui alertando para  uma situação que, para mim vindo de fora e sem a fleuma natural dos que sempre viram a Instituição daquela forma, era mais que evidente.  Em todas as reuniões de Quadros, Directores da primeira linha da hierarquia ou de comerciais, era repetido que o Montepio tinha uma clientela muito fidelizada,  persistente, fiel à instituição, muitos com mais de quarenta anos de vinculos comerciais.

Mas estavamos na época do pós adesão à UE,  o comércio livre, o Mercado Único e a queda de fronteiras físicas e financeiras tinha acabado de chegar. No Montepio continuava-se a bater na tecla dos clientes fieis. Que não trocariam de Banco. Eu via que o discurso contrário, se eu o viesse a fazer em reuniões, era mal aceite e colocar-me-ia  quase na forca.  Os colegas comerciais sentir-se-iam ameaçados. Aprender  a actuar de forma diferente ao que tão bem sabiam, e sabiam mesmo, colocar em causa a sua “escola”, era um enorme risco para mim. Mas fui dizendo francamente a Costa Leal que  a partir de então qualquer comércio, mercearia que fosse ou retrosaria na Baixa, com possibilidade de comprar com vantagem em Espanha, Itália ou na Alemanha, por certo que o fariam. E ao Montepio, à Caixa Económia, estavam vedadas pelo Banco de Portugal quaisquer operações internaconais, que significassem outra moeda, ainda não chegara o Euro, ou outro país.

Tinha sido celebrado um acordo com o então Banco Pinto e Souto Mayor que fazia as operações de câmbios ou outras pouco sufisricadas e  nos passava  o resultado para servirmos os nossos clientes. Mas o Souto Mayor ficava a conhecer o nosso cliente último benficiário e só por tolice ou descuido não o iria cativar dizendo-lhe que o serviria directamente e de forma mais barata, é claro.

Portanto, para manter a enorme base de clientes fidelizados ao longo de muitas décadas, havia que obter  a autorização do Banco Central para o exercício do livre e integral comércio intercional, o chamdo pleno de operações bancárias.


As relações com a Administração do Banco de Portugal sempre tinham sido muito francas, sãs e até chegadas, sempre escorreitas e profissionais.

Estava com o pelouro que poderia autorizar o Montepio o Dr Antonio Martha que tinha sido também meu administrador no Banco de Fomento Nacional. O Dr Costa Leal pediu uma reunião formal mas antecedeu-a com um almoço no Hotel Mundial onde estive com ele e com António Martha, um homem exemplar. Por mim, falei com todas as palavras, dei a minha opinião e bati-me pelo Montepio. 

Na Adinistração do Banco de Portugal estiveram também outros antigos colegas de Costa Leal  e também Alberto Ramalheira, regressado das ex colonias aquando da  descolonização, passando pela Junta de Crédito Público e pelo BP. E Manuela Morgado, minha tia por afinidade, que fora Presidente da Brisa, do BNU da Autoridade Monetária de Macau e comadre de Ramalheira. Mas estes estiveram no Banco de Portugal em tempos não coincidentes com Antonio Martha que viria a decidir autorizar o Montepio a praticar o pleno de operações, as internacionais incluidas.

Manuela Morgado, como disse, com relação familiar comigo, viria a assinar as primeiras e últimas notas de Dez Mil Escudos e as de Cinco Mil. Mas, como sempre esclareci, comprei algumas para ficar com essa recordação familiar mas nunca mas vendeu com desconto, comprei-as sempre “ao par” ! Um  pormenor de bom humor ajuda sempre as leituras e facilita a compreensão dos textos.

Anos mais tarde  passou pelo Montepio uma senhora de quem ainda fui director que viria a sair para liderar uma coisa do BES, de Ricardo Salgado, uma espécie de um Banco por internet, o BEST.  A senhora deu uma série de entrevistas, penso que promocionais sem que tenha tido o cuidado de  pesquisar  o que teria acontecido antes. Anunciou-se e fez-se anunciar como a primeira  mulher  Presidente de um Banco em Portugal. Não foi verdade e a imprensa também não fez o seu trabalho. Já  muito antes a Dra Manuela Morgado tinha sido Presidente do BNU, essa, sim, a primeira Mulher  Presidente de um Banco em Portugal, de um grande Banco, emissor em Moçambique.



Convirá ter presente que o Montepio foi sempre privado, dos seus Associados. 

Mesmo na altura em que toda a Banca foi nacionalizada, nenhum governo se atreveu ou teve a  ousadia de tocar sequer com um dedo no Montepio.

Porque era bem sabido quanto o Montepio representava para a economa nacional, para  o que podemos chamar o tecido social puro, nomeadamente através da concessão que  lhe era quase exclusiva, com o CPP e a CGD apenas,  do crédito à habitação e à construção. Uma perturbação no Montepio, uma dificuldade em continuar a fluir a concessão de crédito à habitação e construção e haveria uma enorme convulsão social em Portugal.

Também é verdade que as nacionalizações da Banca e Seguros foram tomadas e executadas pelo 5º Governo, de Vasco Gonçalves. E o peso do PCP  em toda a estrura do Montepio, desde a CT aos “Quadros” colocados nos lugares de charneira e decisivos, era grande. Assim, não haveria necessidade de o nacionalizar nem se corria o risco de o Montepio poder boicotar a economia pois o alinhamento com o Programa do MFA, nessa altura até mais com a estratégia  do PCP, era enorme.  E havia também o peso grande do PS na estrutura, sobretudo nas administrações. E, claro, da Social Democracia de Sá Carneiro ainda que este tivesse surgido mais tarde, depois do protagonismo e oposição  ao regime  do Estado Novo e ao Marcelismo que teve na chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional.

Importante e histórico foi que toda a Banca e Seguros foram nacionalizados e no Montepio ninguém ousou tocar !



Veio a autorização e o pleno de operações para o Montepio.

Deitei mãos à obra e ao projecto de Costa Leal logo que o Banco de Portugal deu ao Montepio o pleno de operações, incluindo as internacionais.

Fui  buscar e rodear-me de pessoas com experiência na área e operações internacionais. 

Algumas para a  área operacional e fiz o acordo e a compra do sistema Swift, para a  área do Correspondent Banking, recrutei dois técnicos que já conhecia do mercado e celebrei acordos  com Bancos Correspondentes  nos países onde presumia vir a ter operações ou por via das empresas nossas clientes ou  para a recolha  de remessas dos emigrantes portugueses domiciliados nos vários países da Europa Central, Canadá, sobretudo açoreanos, e nos Estados Unidos da América.

Aí surgiram as dificuldades  já antes relatadas noutro texto. 

Quando Costa Leal me deu a incumbência, me nomeou Director Internacional e tive que ir apresentar a instituição  aos Bancos estrangeiros nesses países, passei por autênticos flagelos. Só em Itália, Espanha, França e no norte do Canadá, Montreal e Quebéque havia instituições parecidas. As Cajas di Risparmio com destaque para a mais antiga instituição bancária , o Montipaschi di Siena em Itália, as Cajas de Ahorro em Espanha , as Mutualités em França  e pouco mais.

Dos meus colegas directores internacionais dos Bancos com quem tinha que celebrar Acordos de Correspondência, a pergunta era sempre a mesma, “então o Banco pertence a que qem, a que grupos, quem são os accionistas?  E o Capital Social, como é? “

Não  tem accionistas, pertence por inteiro à Associação Mutualista, não tem acções, tem um Capital Fundacional que não é representado por acções !  “Então e o Estado, qual o papel do Estado Português no Montepio, quanto lá tem?”, perguntavam-me.

Tinha que lhes recordar que o Montepio era cem por cento privado e o Estado tinha os Bancos públicos e algumas posições em Bancos privados, sem grande relevo ou não fazendo uso delas, até  então.

Não entendiam  e saía-me do corpo fazê-los perceber e vir de lá com os acordos assinados e manter as relações e operaçõs internacionais ao longo dos anos em que estive no activo.


Fui com outro Administrador, Herlander Estrela, infelizmente já falecido, apresentar o Montepio a  pretensos Bancos Correspondentes em Inglaterra, França, Suiça e Alemanha, logo de início. Foi tarefa difícil mas bem sucedida.


Posto isto,  queria não inventar a pólvora mas seguir o exemplo dos outros Bancos portugueses  na captação das remessas de emigrantes . Aqueles nossos compatriotas que não se contentaram, face ás dificuldades da vida em Portugal naqueles anos do Estado Novo, em ficar nas aldeias e vilas a beber copos e jogar às cartas nas tabernas, pegaram na trouxa e foram procurar melhor vida no estrangeiro. O sucesso foi imediato. Os trabalhadores portugueses faziam o que os aí residentes não queriam fazer, o trabalho duro, mas  de forma árdua, eficaz e profissional. E dessa forma conseguiam enviar remessas importantes para as famílias em Portugal e, mais tarde, levaram-nas  mesmo   para junto deles e arranjaram-lhes também trabalho. Aí se via  a audácia, o apego ao trabalho e a  alma do trabalhador português. E, a este esforço, Costa Leal e o Montepio queriam  estar associados, estar fisicamente perto e ajudar com proveitos para a instituição bancária.


Foram seguramente dois anos em que não tive fins de semana. 

Em Portugal, não quero ser negativo mas no desconhecimento deveria pensar-se que eu andaria só a passear ! Absolutamente mentira mas da fama nem sempre nos livramos. Há é que ter estofo para fazermos de cara lavada aquilo que é útil e de que gostamos. 

Socorri-me das associações locais de portugueses, dos seus mais destacados elementos e dirigentes e com alguns deles percorri, palmo a palmo, fins de semana a fio, durante a semana eles trabalhavam,  os países  de emigração portuguesa, toda a Europa Central, cidade por cidade. Depois, vieram os acordos e as contas do Montepio abertas nos Correios de cada aís,  nos  Bancos Postais  desses países, onde os emigrantes iam  depositar eles próprios e directamente as suas poupanças  dirigidas imediatamente para as suas contas no Montepio em Portugal. 

E em cada país estranjeiro formei uma rede de promotores/colaboradores que, a troco  de pequenas recompensas, a maioria eram dirigentes associativos e mutualistas de raíz, distribuiam uns baralhos de cartas com a imagem do Montepio, uns aventais, umas esferográficas e promoviam as Corridas da Liberdade em Abril, as Grandes Noites de Fado de Genève ou Frankfurt, muitas vezes eu e o Vitor Ramalho, Secretário de Estado das Comunidades aguentamos noitadas para no final entregar os prémios  e outras iniciativas como os Grupos de Teatro e  Grupos Folclóricos que havia onde estivessem portugueses. 



De seguida, poucos  anos mais tarde, Veio a incumbência de abrir espaços  físicos nesses países, onde os clientes pudessem mesmo dirigir-se. E uma vez mais  tive razões para me encher de orgulho pois fiz tudo quase sózinho, desde a chegada ao país, procura de local para nos instalarmos,  organizar tudo, recrutar pessoas, todos portugueses que vieram já de outros Bancos portugueses aí instalados, logo, a saberem já do ofício e uma vez mais realizar eu acções de formação aos fins de semana para funcionários e colaboradores/promotores.

Eram os Escritórios de Representação.



Paris 

O primeiro Escritório de Representação do Montepio acabaria por ser aberto em Paris em 1998. 

Desde a minha juventude que ia com alguma frequência a Paris e, mais tarde, por força dos compromissos como administrador  de um  SICAV e a cooperação com a Banque Française de Crédit Cooperatif, em Nanterre. 

Nunca, naquelas várias dezenas de vezes que deambulara por Paris, onde sempre consigo encontrar ambientes novos ou matar saudades de outros vividos, me tinha passado pela cabeça que um dia viesse a ser responsável e a realizar eu próprio a abertura de um Escritório de Representação de um banco português, muito menos do Montepio, uma instituição prestigiada, mas assumidamente, operando no mercado bancário doméstico em Portugal. 

Traçou-se o objetivo e comecei a trabalhar no projeto. Em Paris, fui buscar todos os apoios com que poderia contar. 

 

E outros contactos que procurei entre amigos noutras instituições, por exemplo no Crédit Cooperatif,  pessoas conhecidas de outras épocas na Banque de France. 




Com o Dr. Costa Leal no dia da inauguração do Escritório de Paris 




 


                                                                  Toronto 

Uma vez aberto o Escritório de Paris e uma vez a funcionar e em plena atividade, o presidente Costa Leal logo me apressou para a tarefa de abrir uma delegação também no Canadá onde havia uma forte comunidade lusa, designadamente oriunda dos Açores e do Minho, no continente. 

 



A inauguração do Escritório de Toronto (1998) 

A escolha acabou por recair em Toronto já que a comunidade no Ontário estava mais concentrada, não apenas em Toronto mas também numa cidade satélite, Mississagua, em Hamilton e em várias outras. 

Desloquei-me a Toronto várias vezes, recolhi os apoios necessários estabeleci contactos e acabei por me envolver mais do que em Paris, já que tive sozinho de escolher e arranjar um espaço para alugar, entrevistar e contratar pessoas e ainda de dialogar continuadamente com os advogados para organizar o processo de autorização de abertura. 





O meu gabinete no Escritório de Toronto 

Percorri a Dundas Street West variadíssimas vezes durante ano e meio. Falava-se português em toda o sítio e os escritórios do Banco Totta, Banco Comercial dos Açores e Sotto Mayor estavam ali localizados. 

Fui-me apercebendo, nas várias visitas, que a Dundas Street estava a ser tomada gradualmente pelos chineses. Desde a baixa de Toronto, a Chinatown local, as lojas e comércios chineses progrediam na Dundas Street. O escritório do Totta & Açores e mesmo o do Banco Comercial dos Açores, estavam já rodeados por lojas chinesas. 

Então, decidi optar por um local mais para west onde o fenómeno não era tão visível e os portugueses continuavam em força. Arranjei uma loja mesmo ao lado do restaurante português Rambóia, próximo também da Casa dos Açores e do Clube Asas do Atlântico. Foi preciosa a ajuda que obtive do Sr. Carlos Medeiros, um português que trabalhava mesmo ao lado nos escritórios da Remax, quando ainda não se fazia ideia em Portugal do que era a Remax. 

Decisivos foram também os apoios de outros luso-canadianos. Charles de Sousa, posteriormente Ministro das Finanças do Canadá, na altura a trabalhar no Royal Bank of Canada e do seu pai, António Sousa, um dos primeiros pioneiros emigrantes no Canadá e oriundos da Nazaré, de Mário Silva, um jovem político de origem açoreana, na altura vice-presidente da Câmara de Toronto, e ainda de muitos outros. 




A equipa do Escritório de Toronto
Por diversas vezes fui ao telejornal da emissão em português da CFMT, a 

televisão local que tinha programação diária na nossa língua. 



                                                                Frankfurt


Mais em baixo a saudação do Dr. Costa Leal, Presidente do Montepio 

Na Alemanha, tinha já desde quase o início da abertura da Direção Internacional, uma rede de colaboradores a funcionar, coordenada por Luís de Freitas, na altura a trabalhar no Departamento de Qualidade da Rolls Royce e que residia em Frankfurt. 

Frankfurt era o centro financeiro por excelência, com o Banco Central Europeu, e com o Departamento Financeiro do Post Bank com o qual tinha assinado um acordo para que se processassem as transferências para Portugal, enfim, existiam várias outras razões para ali localizar o escritório, tal como vários outros bancos portugueses o tinham feito. 

 




 

Inauguração do Escritório de Frankfurt (2001) 

Luís de Freitas deu um apoio precioso, foi replicado o modelo aplicado em Paris e Toronto, ajustando alguns detalhes aos usos e costumes alemães, com alguma dificuldade na escolha do local, conjugada com um preço equilibrado a pagar e procurando não exceder o previsto. 


Também o recrutamento de pessoal foi feito localmente e acabámos por selecionar, depois de um processo de anúncio e entrevistas aos interessados, a D. Otília, uma senhora oriunda do distrito de Aveiro mas já a residir e a trabalhar na Alemanha há algum tempo e com a mais valia de ter trabalhado no Consulado de Portugal e conhecer bem a comunidade lusa local. 



                                                                  Genebra 

Vista exterior do Escritório de Genebra


Placa comemorativa da inauguração do Escritório de Genebra 

Aberto o Escritório de Frankfurt, comecei a trabalhar na abertura de Genebra. Refira-se que a Suíça foi um dos primeiros países de destino de emigração portuguesa a ficar coberto com uma rede de colaboradores e angariadores de remessas para Portugal. 

Com esse objetivo em mente fiz também um acordo com La Poste, o banco postal dos correios suíços que recebiam e processavam as transferências dos clientes. 

Pelo volume que essas remessas atingiram, justificava-se a abertura de uma estrutura de apoio direto local. Foi na altura escolhida Genebra, não só também pelo posicionamento dos escritórios dos restantes bancos portugueses mas pelo facto de a Suíça francófona ter um peso relevante entre os clientes, apesar de ter arranjado um colaborador e vários clientes até na Suíça italiana, no Ticino. 

Outras regiões importantes eram Lausana, Neuchâtel, Gruyére, Bulle, Berna, Zurique, Vaduz no Liechtenstein, nas mais recônditas estâncias de turismo e de neve, isto porque os emigrantes portugueses na Suíça trabalham sobretudo na hotelaria, tinha colaboradores e captava remessas com essa origem. 

Também para o processo de abertura, o Dr. Pedro Sameiro, conseguiu, a partir de Lisboa, um dos melhores escritórios de advogados locais, Maitre Venturini, em Genebra. 

 

Com paciência e prudência, acabei por encontrar as instalações, sempre muito em conta. As obras de adaptação, neste caso, foram feitas pelo Departamento de Instalações de Lisboa e foram, não sei se por isso, muito demoradas. 

Localizam-se na Rue Terreau du Temple, mesmo próximo da estação de caminhos de ferro, La Gare. 

A equipa local foi escolhida por mim, depois de um processo de seleção com anúncio e entrevistas e integrava José Ferreira, o chefe do Escritório, António Santos, por acaso natural da zona de Viseu mas já há anos na Suíça e Maria Filomena que trabalhava já, também, numa empresa local. 





                                                   Newark, Nova Jérsia (EUA) 

 



Windows on the World - Restaurante da inauguração no cimo das Torres Gémeas

                                                      Em fundo as Torres Gémeas 





Placas comemorativas da inauguração das duas estruturas em Nova Jérsia, Newark 

Acabado o programa de aberturas e cobertura dos principais centros de destino de portugueses na Europa Central, dado que havia já o escritório aberto em Toronto, Newark, em Nova Jérsia, defronte de Nova Iorque, era um destino natural, não só pelo peso da comunidade lusa, por exemplo, a Ferry Street com a sua parada anual do 10 de Junho era disso uma prova concludente, mas também porque as duas unidades poderiam começar a funcionar com economias de escala e ajuda mútua. 

Depois da decisão de abrir o novo escritório de representação pelo Conselho de Administração do Montepio, em Lisboa, deitei mãos à obra, seguindo o programa de abertura que tinha criado e aperfeiçoado ao longo dos anos e que, naturalmente, começava pela necessidade de apoio jurídico local para a apresentação às autoridades norte-americanas do respetivo dossier de proposta de abertura. 

As duas advogadas que me foram indicadas pelo diretor jurídico, em Lisboa, trabalhavam no piso 47 das Torres Gémeas de Nova Iorque. 

Visitei-as algumas vezes ao longo dos dois anos que o processo demorou até estar definitivamente autorizado. Algumas vezes me convidaram, após as reuniões que fazíamos, para almoçar no restaurante do topo das Twin Towers, o Windows on the World, que tinha uma vista espetacular com Manhattan aos nossos pés. 

Administrador do Montepio e embaixador António Monteiro no restaurante Windows on the World no topo das Torres Gêmeas 



Mas, como a comunidade portuguesa residia e trabalhava, sobretudo, do outro lado do rio, em Newark, Nova Jérsia, o escritório seria aberto aí, o que implicou diversas visitas a Nova Iorque e à Ferry Street de Newark. 

Havia espaços disponíveis, mas eram caros, pois os portugueses que os tinham, sabiam que iriam alugar a um cliente que era um banco. Rejeitei uma boa loja de um antigo restaurante, as instalações deixadas já por outro banco, o Totta & Açores, e algumas outras e acabei por descobrir a meio da Ferry Street uma loja cuja proprietária estava cansada de a ver alugada por pouco tempo e a ver os inquilinos saírem, mudando de negócio e de cidade. 


Tive a enorme vantagem do argumento que ao alugar ao Montepio, seria por, assim o esperavamos, muitos anos. E o preço chegou a um patamar aceitável de negociação. Vieram a seguir as obras de adaptação a cargo do meu colega e também diretor, Eng. Correia Brás. Fiquei muito contente com o trabalho ali realizado, fomos lá os dois algumas vezes, e a relação de amizade e respeito mútuo pelo trabalho de cada um, ajudou bastante para a boa conclusão deste projeto. 


E, veio a seguir o processo de seleção da equipa local. A escolha acabaria por recair, após várias entrevistas a candidatos locais, em António Ferreira para a chefia de Newark. Trabalhava na altura na Missão Portuguesa nas Nações Unidas e tinha trabalhado em Portugal no Banco Pinto & Sotto Mayor. Ele próprio indicou a segunda pessoa, um português que estava também já há anos a trabalhar na zona do Ironbound, Newark. 



Nesta altura, as Torres Gémeas ainda existiam. O almoço de inauguração realizou-se, no topo, no restaurante Windows on the World. 


Em cima, duas imagens tiradas nesse dia no topo das Twin Towers 

  


                                                        Londres 



Placa comemorativa da inauguração de Londres (2003) 





A equipa de Londres comigo e com o Dr. Alberto Ramalheira 




Vista exterior do Escritório de Londres 

  




Notícias sobre a inauguração do Escritório de Londres

 




sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Os doutores médicos, os Arménios advogados e as Celestes engenheiras !

 Os doutores médicos, os Arménios advogados e as Celestes engenheiras !

Um estranho mundo de pretenciosos, convencidos e que flutua alguns metros acima da crosta terrestre !
Bernardo é um jovem filho da mãe, engenheira. O pai é advogado.
De certeza por ser filho da mãe, é muito curioso, astuto, inteligente e tem por hábito colocar questões a si mesmo por tudo e por nada. E não desiste enquanto não encontre ou lhe possam dar respostas que o convençam. Que expliquem as suas interrogações.
Vive numa vila do interior, pequena em importância e em número de habitantes, uma coisa pode ter muito a ver com a outra.
Por isso mesmo, ali, todos se conhecem, pelos nomes, pelas profissões de cada um, pelo bem que fazem e pelos disparates que já fizeram.
Sempre que os pais encontrem razão para levar Bernardo ao médico, uma gripe, uma dor de gargannta ou uma varicela apanhada na escola, dessas doenças infantis que costumavam chegar a todos, embora os todos nunca chegassem ao ponto de ser tantos quanto a nova doença da moda nos habituou a ver, temer e considerar, ia ao consultório do Dr. Calisto e do Dr Malaquias. Se estava um, era visto logo por ele, se estava o outro, o procedimento era igual.
Agora que lá tinha ido há precisamente dois dias, Bernardo já muito melhor da constipação que lá o levara, perguntava-se qual a razão pela qual o seu pai se dirigia ao médico tratando-o sempre por senhor doutor e o médico lhe retorquia tratando-o por senhor Arménio. O mesmo acontecia com a mãe que era ali tratada por dona Celeste.
Acontece que todos frequentavam os mesmos lugares, cafés, teatro sempre que havia, cerimónias oficiais e festas mais e menos importantes. Aí, eram a Senhora engenheira, o senhor Dr ( o pai, advogado) e o senhor Dr. ( qualquer um dos médicos). No consultório, durante o “acto médico”, passavam a dona Celeste e senhor Arménio mas os outros continuavam a ser senhores doutores !
Teve como primeira explicação do pai que, antigamente, há muitos anos, doutores eram só os médicos. Era uma forma de os elevar a um patamar de conhecimentos, competências e importância que os colocava acima de quaisquer suspeitas em relação ao que diziam, diagnósticos incluídos, e de os diferenciar por superioridade em relação ao resto da população.
“Se o médico disse…” e “até o médico lhe mandou tomar…” !
Estava dito e feito.
Há uma dúzia de anos para cá, quase todos passaram a ser “doutores”. Com aquela coisa do Acordo de Genéve, ou de Bordéus, … não, Bolonha, Bolonha é que deu o nome ao acordo que veio permitir que em vez de se ter que andar cinco anos ou mais a estudar e pagar propinas, sebentas, quartos e viagens para a terra, um canudo de doutor pudesse ser adquirido até ao máximo de três anos.
Até então eram todos muito parvos. Andavam a queimar pestanas e gastar o que nem chegavam a ter durante cinco ou mais anos , coisa que podiam bem fazer em três ou até menos !
Sabe-se que o recorde mundial é português e foi conseguido brilhantemente numa tarde de fim de semana. Mas isso, agora e para aqui, pouco interessa.
Então, a partir do famoso Acordo de Bolonha, só quem não o pretendeu mesmo não tirou um Curso Superior!
Como os conhecimentos adquiridos a tal velocidade pelos novos doutores eram parcos e como as universidades e quem delas tira os lucros não são parvos, arranjaram logo a forma de complementar os cursos com os chamados Mestrados.
Logo as vilas, mesmo as sem importância e do interior, ficaram repletas de Mestres. Sem empregos condizentes, por vezes a aviar produtos nos supermercados, mas Mestres.
E como os Mestres, por tantos que passaram a ser, cairam em desuso e em prestigio, só a escassez torna apetecível e valioso o produto, veio nova vaga para adquirir conhecimentos, os Doutoramentos !
Então, dito tudo isto, haverá ainda alguém que considere este e outros povinhos parvos?
Claro que não.
Mas voltando à vaca fria, que com tanto tempo passado desde as primeiras linhas e fora do forno é claro que já arrefeceu, há um despudor, um convencimento de habitar um mundo à parte e por cima de todos, uma falta de humildade e até de educação da parte de muito do pessoal médico, há excepções, claro, que se torna impressionante.
E só se curará quando o paciente , engenheiro, advogado ou economista , depois do médico preencher a sua ficha e lhe ter perguntado “ senhor Arménio, e qual é a sua profissão ?” lhe responder “sou advogado senhor Calisto ou senhor Malaquias !"
O jovem Bernardo fez questão de dizer que não se sente nada impressionado se todos se tratarem pelo seu nome singelo, sem titulos ou louvores. O que ele não entende é que ande para aí uma grande maioria de tolos a aturar e alimentar pretenciosismos de uns quantos que se julgam ou querem fazer passar por seres superiores.
A cada qual a muita importância e a competência que possa ter. Precisamos de todos, até dquele grupo musical “ Doutores e Engenheiros” ! de boa e saudosa memória.
Carlos Pereira Martins

domingo, 21 de novembro de 2021

Concerto de homenagem e tributo a José Mário Branco

 

Sábado, 20 de Novembro de 2021, Forum Lisboa


Com Pedro Branco, filho de Zé Mário à saída do palco




Neto de José Mário Branco