quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Quem comanda o CDS? Um bispo tachista , daqueles que ficam esturricados no tacho, dão mau sabor à comida ou um COMUNISTA ?

 Quem comanda o CDS?

Um bispo tachista , daqueles que ficam esturricados no tacho, dão mau sabor à comida e só saem quando se deita todo o cozinhado fora, um ambicioso demasiado imberbe que da vida nada sabe ou um COMUNISTA ?

Desviei o meu olhar do horizonte longínquo, quase sem limites nem mira apontada e baixei os olhos para o rádio do carro.
Há algum tempo que me me deu a sensação de estarem a reproduzir embora num tom mais juvenil ou infantil, a voz de Alvaro Cunhal, omitindo as sempre "questões centrais", "o essencial", "o bem do nosso povo" e a "política de direita" ! Tudo coisas fundamentais, diga-se de passagem, mas sempre repetidas como assinatura dos discursos do nosso já muito saudoso político.

Não, nada tinha a ver. Era o Francisco Rodrigues dos Santos no auge dos seus ainda frecos 30 e muito poucos anos, a clamar, ... contra quem? Claro, contra a esquerdae contra o governo !

Francisco, o tempo, por vezes, é traiçoeiro e prega-nos partidas. O jovem agora lider ainda não era nascido mas as expressões que estava a utilizar, a clamar por intervenção do Estado, do Governo, que seria preciso o Estado entrar com capitais nas empresas, eram aquelas contra as quais, o CDS, então um partido respeitável e com grandes figuras, como Adelino Amaro da Costa, Ribeiro e Castro, Freitas do Amaral, com ressalva para as diferentes opiniões ideológicas que com eles eu tinha, dizia eu, o CDS era um partido profunda e radicalmente contra tudo o que pudesse dar um laivo, um cheiro leve, uma sugestão de COMUNISMO. Arrenego, Satanás !

E eram as soluções de forte intervenção do Estado na economia que o Francisco preconizava agora, pedia ou quase tinha a veleidade de impor.

Pois é, não há sol que sempre dure... sempre se tenta desviá-lo da eira para o nabal ou vice-versa, não é?
Na esperança, ou na ignorância que os outros andam por cá com os olhares e os ouvidos no horizonte sem fim, não dão por nada.

Mas não será assim que o CDS, partido de direita que chegou ao que chegou, se poderá recompor.
Vejo figuras que andavam na boca dos telejornais, a fazer de parede humana por trás da líder ou do líder, recentemente, completamente fora do baralho, dosacontecimentos. Fugiram, desertaram ou hibernaram à espera de um buraco milagroso que Fátima possa abrir para se guindarem de novo ao papel de salvadores? Estou a lembra-me concretamente de João Almeida e outros que se colocaram na posição mais cómoda de não se mostrar. Assim, não me comprometo, como dizia o saudoso Nicolau Breyner !
Ou esperarão pela hora em que o tal táxi os levará todos , nem é preciso ser apertadinhos, a algum lugar, ... algures ou anhures !

Comunistas a liderar o CDS ! Já não me chegava a queda do muro de Berlim, os ataques às Torres Gémeas, as Guerras do Iraque e similares, o Covid ... que mais estarei reservado para presenciar e poder comentar?

Haja Deus, como diz o brasileiro e fica bem num "post" sobre as ridicularias do CDS !

CPM



quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Montepio Geral, o Mutualismo em Portugal.

 



Montepio Geral, o Mutualismo em Portugal.

Vai haver eleições no Montepio. Pois vai. Então, é a hora de eu não dizer mal de seja quem for mas dizer muito bem do Montepio e do Mutualismo !
Falar do Montepio Geral é tarefa agradável mas devo confessar que não é fácil.
Como costuma dizer um ilustre amigo meu, podemos falar de muita coisa, muitas instituições ou associações. Mas, é imprescindivel saber e definir sempre com precisão de qual e daquilo de que se fala. É que há inumeras coisas com designações e mesmo finalidades divulgadas muito idênticas, quando não as mesmas. E, no fim de tudo, o que conta e quem faz as Instituições, são as pessoas que as integram, que lá estão e lhes dão vida.
Estávamos no ano de 1840 e em Portugal e na Europa, senão no mundo em geral, a vida pouco ou nada tinha a ver com a que as nossas gerações felizmente viveram e vivem, sobretudo no que respeita a protecções, a direitos já para não falar sequer em regalias ou segurança social.
Numa família tradicional, para o comum dos mortais, a infelicidade de falecer o “homem da casa”, aquele que ganhava o soldo ou tratava do pastoricio do gado que uma vez engordado era vendido ou tomava o caminho da desmancha e das salgadeiras que iriam assegurar o sustento de toda a família durante o ano, era certo que ficava anunciada a desgraça e a pobreza seria mais que certa.
Depois, era necessário enterrar os mortos, ia-se o soldo e ainda para mais era preciso arranjar meios de endividamento ou a solidariedade activa de vizinhos e amigos mais chegados para fazer o funeral. E isto não é estar a fazer textos ou histórias vãs para que toquem os corações, era a verdade quase generalizada na maioria dos lares.
E foi então, em 1840, que um grupo de homens bons e solidários decidiu fundar a Associação Mutualista, o mutualismo em Portugal.
Convém neste preciso momento da escrita deixar claro que mutualismo não pode ser definido como caridade, fazer bem ao próximo ou por um conceito próximo disto mesmo.
Mutualismo era e é entreajuda. É um grupo bem definido de cidadãos que se junta com um propósito e os membros se ajudam entre si em determinadas situações préviamente definidas.
Muitas vezes e muitas pessoas, por se tratar de uma causa muito nobre, tendem a confundir mutualismo com caridade, em geral, fazer bem aos outros, a quem necessita. Não é isso.
De início, os propósitos primeiros da Associação Mutualista Montepio Geral tinham a ver com a morte, como se disse, com a viuvez do marido ou da esposa, o custear o funeral e a entreajuda para a manutenção e sobrevivência daquela família.
Os membros que aderiam iam pagando uma contribuição certa e regular que se ia acumulando num, chamemos-lhe “Monte”. E daí os Monte Pios, palavra única, claro.
Sempre que o infortúnio batia à porta de um membro, não da população em geral, iam ao Monte, que seria Pio e dali sairia o pré-definido para a ajuda áquele membro, de acordo com as contribuições que tinha ido fazendo, uns mais, outros menos, claro.
Foi um sucesso enorme na nossa sociedade. A resposta à morte, funeral e primeiras necessidades ficavam aliviadas por esse meio.
Mais tarde, nova necessidade surgiu, o casamento de uma filha que na altura implicava um dote que não se tinha. O Montepio passou a preocupar-se e a ter resposta também para isso.
E o sucesso foi tão marcante que quatro anos mais tarde, em 1844, os Membros viram razão para se reunirem de novo e debaterem uma questão simples. Andamos para aqui a juntar contribuições, fundos já tão apreciáveis e a dá-los a guardar ou gerir a outras instituições financeiras, e a pagar tanto por esse serviço, porque não criarmos a nossa própria Caixa Económica que o faça talvez com menos custos e gerando mais proveitos? E os resultados gerados poderão reverter não em dividendos para os accionistas que os não havia mas em regalias para os mutualistas da Instituição mãe, a Associação Mutualista.
Assim o pensaram, discutiram e votaram, que nisso do mutualismo a regra foi sempre “um homem é igual a um voto”, independentemente dos capitais que lá tenha como almofada, guardados. E assim criaram de facto a Caixa Económica Montepio Geral, a CEMG que ainda tive a enorme honra de servir e dela ser Director Financeiro. Vindo do Banco de Fomento Nacional e convidado para integrar o seu projecto pelo Presidente Costa Leal, casado com a Dra Maria Candida, viúva de Bento de Jesus Caraça.
Durante muitos anos, até há pouco tempo quando os problemas mais graves começaram a surgir na generalidade da imprensa, as duas instituições, embora ligadas umbilicalmente, funcionavam como autónomas mas nos mesmos espaços físicos, os Balcões, a Sede e os edifícios centrais.
Há um tempo e um contexto para tudo e nesse tempo a solução era normalíssima e correcta.
O Montepio Geral, a Associação Mutualista, foi criada à luz dos valores da Revolução Francesa que, embora tivesse já ocorrido em Maio de 1789, tinham vindo a consolidar-se e chegavam então a Portugal. Eram básicamente a Igualdade, Solidariedade e Fraternidade.
O sucesso foi , como se disse, enorme e a instituição prosperou a olhos vistos desempenhando no país o lugar do que na América se designava e ainda hoje se designa de “Land of Last Resource”.
Foi muito próxima a relação que sempre tive com o Presidente Costa Leal. E, embora não pretenda falar de mim neste texto, os factos acabam por fazê-lo inclinar para o meu lado. Tal qual os campos de alguns clubes que bem conhecemos que, durante os jogos, acabam inevitávelmente por se inclinar para um dos lados, sempre o deles !
Costa Leal pretendia, com o seu projecto, profissionalizar a instituição ou as instituições, melhor dizendo, encontrar quem soubesse fazer “escola”. Era esse o meu desafio nas áreas Financeira e de Mercado de Capitais ( eu tinha assumido a paternidade do estudo, concepção e da introdução em Portugal do primeiro instrumento financeiro no pós 25 de Abril. No Mercado de Capitais, as Obrigações de Caixa do Banco de Fomento. Tinha sido com Veiga Anjos e Castanheira dos Santos a desenvolver e criar a Central de Valores Mobiliários e a desmaterialização dos titulos) . Costa Leal, em sussurro, logo me avisou que a minha chegada não iria ser fácil. Vinha de um Banco, o Banco de Fomento, onde em cada andar se falava a mesma linguagem, quase todos técnicos, engenheiros, economistas e advogados. Subia-se ou descia-se um andar e o nivel das conversas era o mesmo, sempre muito técnico. Apesar disso, o Fomento não era nada comercial, não tinha Balcões comerciais. Ao contrário, no Montepio, havia muito poucas pessoas formadas nos niveis intermédios e a rede era essencialmente comercial e nesse aspecto muito bem preparada.
Convém lembrar que até aos anos noventa, apenas o Montepio (MG), a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Crédito Predial Português (CPP) podiam fazer o crédito à habitação. E nesses tempos o chamado “mal parado” ou em incumprimento não era nada expressivo como hoje é, depois de liberalizado o mercado a todo o sistema bancário. No Montepio, CPP e CGD sabiam mesmo fazer, tratar e trabalhar o crédito à habitação, é um facto.
A instituição não tinha nem Capital Social, nem accionistas. A entidade bancária tinha um Capital Fundacional, Institucional, não se designava intencionalmente por Capital Social e era pertença a cem por cento pela Associação Mutualista que fundou a Caixa Económica quatro anos depois da sua existência e do sucesso ocorrido. Em 1844.
Costa Leal pretendeu sempre levar o Montepio, com presença física, a todos os países do chamado Mercado da Saudade, a imigração. Onde houvesse portugueses emigrados, Europa Central, Canadá e Estados Unidos da América, queria estar presente para os apoiar.
Quando me deu essa incumbência, me nomeou Director Internacional e tive que ir apresentar a instituição aos Bancos estrangeiros nesses países, passei por autênticos flagelos. Só em Itália, Espanha, França e no norte do Canadá, Montreal e Quebéque havia instituições parecidas. As Cajas di Risparmio com destaque para a mais antiga instituição bancária , o Montipaschi di Siena em Itália, as Cajas de Ahorro em Espanha , as Mutualités em França e pouco mais.
Dos meus colegas directores internacionais dos Bancos com quem tinha que celebrar Acordos de Correspondência, a pergunta era sempre a mesma, “então o Banco pertence a que qem, a que grupos, quem são os accionistas? E o Capital Social, como é? “
Não tem accionistas, pertence por inteiro à Associação Mutualista, não tem acções, tem um Capital Fundacional que não é representado por acções ! “Então e o Estado, qual o papel do Estado Português no Montepio, quanto lá tem?”, perguntavam-me.
Tinha que lhes recordar que o Montepio era cem por cento privado e o Estado tinha os Bancos públicos e algumas posições em Bancos privados, sem grande relevo ou não fazendo uso delas, até então.
Não entendiam e saía-me do corpo fazê-los perceber e vir de lá com os acordos assinados e manter as relações e operaçõs internacionais ao longo dos anos em que estive no activo.
A propósito, cheguei do Banco de Fomento Nacional em 1987 e reformei-me do Montepio logo que Costa Leal faleceu. Deixou de ser o projecto dele e também o meu.
Ainda entrei na primeira lista liderada por Silva Lopes para os Corpos Sociais mas reformei-me no final desse mandato.
Foi quase recambolesco mas saí muito orgulhoso. Certa manhã um administrador chamou-me ao seu gabinete onde já estava com outro meu colega Director. Queriam que eu não só desse o meu acordo mas que fosse eu a propor determinada operação. Não concordei e disse-lhes isso mas que poderiam eles propor e fazer sem a minha intervenção. Não lhes servia, tinha que propor eu. A conversa aqueceu e fiquei a saber que se eu não propusesse perderia a Direcção que tinha no dia seguinte. Seria nomeado Assessor do Conselho de Administração, sem direcção. Recordo que depois de uma troca de palavras , agi instintivamente, eu que sou tradicionalmente e normalmente pacífico, dei um murro no tampo da mesa que fez saltar o copo que continha os lápis e esferográficas, dizendo “não faço” e soltando mesmo um palavrão de que me envergoho ainda hoje de aqui escrever. No dia seguinte a decisão de me tirar a Direcção foi tomada e um diligente director que geria os móveis da casa informou-me que o armário que tinha no meu gabinete, com os meus papeis, não mudava comigo, deveria devolvê-lo ao gabinete que deixara. Assim fiz e não me incomodou como ele ou eles pensariam.
Quase ao mesmo tempo o Dr Costa Leal acabava o seu mandato e foi mudado para o quarto andar da Rua do Ouro, em vez do quinto onde ficava a Administração. Ficamos com dois gabinetes lado a lado e a mesma Senhora a secretariar os dois. Entretanto, pedi desde logo a passagem à reforma, por inteiro, com os anos que trazia de Banca.
Passadas poucas semanas o Dr costa Leal regressava do almoço do restaurante que funcionava quase como “nossa cantina”, onde se ia muito, a Granja, ao lado do Bessa. Secretariava-nos, aos dois, a Dra Natália Beça. Na hora , ela não estava e quando o telefone tocou foi Costa Leal quem atendeu. Passou em frente da porta do meu gabinete, tinhamos os dois as portas sempre abertas e disse-me “ o gajo chamou-me lá acima ao gabinete dele. Não sei o que me quer. Com a minha idade, bem podia descer ele um andar…vou lá, diga à Natália quando ela vier e que me chame o André para me levar a casa quando eu descer” O André era o seu zeloso motorista. Voltou rápido e disse-me que “ o gajo só queria dizer-me que não ia contar comigo na nova lista para as eleições para o lugar de Presidente da Mesa da AG”. Veio o André, vestiu o sobretudo, passou de novo à minha porta, meteu a cabeça dentro e disse-me que ia embora e pensar se voltaria outro qualquer dia ou não. Nunca mais voltou. No dia seguinte veio a noticia de ter sido internado de urgência e logo faleceu.
Eu reformei-me e fui desempenhar o cargo de Membro do Conselho Económico e Social Europeu em Bruxelas, lugar onde me mantive durante vários mandatos e abri imenso os meus horizontes pessoais, culturais, profissionais e sociais com contactos pessoais com as mais altas figuras dos governos mundiais, presentes e passadas como Walesa, Hillary Clinton e Delors.
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Fico por aqui.
Entretanto, várias eleições tiveram lugar no Montepio,tive convites que agradeço para integrar várias listas mas sempre recusei. O meu receio foi sempre o de, no calor das disputas, acabar a tocar em assuntos quase pessoais que o Dr Costa Leal me acabou por confidenciar ou outros profissionais que presenciei mas nunca repetirei. E desta forma sempre recusei integrar listas mas qem sabe se um dia me tento depois de concluir que tenho condições e saber para presidir a uma tão grande, tão honrosa, notável e prestigiada instituição ?!
Pois, o texto ou o campo inclinou-se como eu previra para o meu lado. só posso pedir desculpa mas acaba por ser história talvez desconhecida de muitos.
Dizia que o Presidente me avisou de inicio que não seria fácil e que seria visto como um corpo estranho. Assim foi. Também me disse que não seria conveniente sermos vistos como pessoas demasiado próximas. Ao longo dos anos fez-me muitas confidências sobre o que via e que guardarei comigo para sempre.
Fui de facto um corpo estranho no inicio. Até passei pela fase do “Expert”, termo que detestava e ainda hoje detesto. Sou um economista e não um ser desses. Quem o usava não o faria por mal , pensava que até me agradava. Os poucos licenciados que havia tinham tirado os cursos depois de entrarem para as carreiras administrativas e frequentado as universidades de noite, na sua grande maioria.
E isso tem até muito valor, enriquece conhecimentos da vida práctica e real. Mas tira disposição e leva cansaço para quem depois de um dia atrás de um balção ainda vai para as aulas da noite, dorme pouco e no dia seguinte tem que estar cedo de novo para atender clientes!
Há questões culturais, sociais, físicas e outras , tudo a ver com a educação em geral que aconselham a quem faça cursos em horários nocturnos a frequentar algum tempo os horários diurnos. Por ser tudo muito diferente, culturalmente, no essencial.
Para o comum das pessoas que não tenham formação econ´ómica, ciência económica, a frase até faz todo o sentido, pelo uso na chamada economia caseira.
Como economista, não posso aceitar que um director, economista, sei lá se administrador do Montepio diga, repita e faça disso “ciência” o argumento que temos que gerir o Montepio como se fosse a nossa casa. Que não se pode gastar mais do que aquilo que se tem ou se recebe. A ciência económica não diz isso. s países, as empresas e os particulares usam e investem o que não têm. Se não fosse assim, não haveria negócio de financiamento para os Bancos. As empresas investem o que não terão no momento do investimento. São financiadas pelos Bancos que avaliam a capacidade do projecto de investimento, do negócio, ter bondade, vir a gerar lucros e retorno. O mesmo se passa com os particulares que compram habitações, se lançam em negócios sem ter liquidez no momento. A quem os financia compete analisar a capacidade de gerar meios para honrar o serviço da dívida, esse é o papel dos economistas, sempre com um inegável grau de probabilidade aceitável. Nunca nos negócios há ou pode haver certezas. Um pretenso economista que use e diga bem alto e convencido da autoridade do que diz, que é como nas nossas casas, na economia caseira, não pode ser um economistaa sério, é bacoco, com as devidas desculpas. Não sou contra ninguém nem me move alguma coisa contra alguém. Sou pela ciência, Pela ciência económica que estudei na universidade, durante não três, nem dois, mas cinco cansativos anos!
Afinal, até à minha chegada, o Montepio não tinha feito , montado, uma única operação de Mercado de Capitais para as empresas suas clientes. E os tempos eram esses, de desintermediação. Com o regime de Controlo Directo do Crédito, todos os meses chegavam cartas do Banco Central anunciando o montante de novo crédito permitido fazer por cada instituição no mês seguinte. Nos anos noventa o regime alterou-se do Controlo Directo para o Indirecto. Queria isto significar que “quem tinha unhas, tocaria guitarra” no dizer popular. Ou seja, quem tivesse depósitos, faria o crédito correspondente aplicadas as regras e conversões necessárias.
E foi a partir desta alteração do Controlo Monetário que os Directores Comerciais dos vários Bancos passaram a preencher os seus dias a procurar novas lojas, prédios, lugares para abrir novos Balcões para captar mais depósitos. Entendia-se que quem estivesse mais próximo dos clientes, leia-se em todo o lado, captaria mais depósitos, recursos e poderia fazer mais crédito.
Foi um vale tudo de negócios e negociatas para abrir Balcões. Embora fosse bom de ver que passada a onda, e as ondas passam sempre, o mar chão acaba por voltar sempre, a maioria desses espaços seria para fechar de novo ou por não terem massa critica de clientes ou porque os custos de manutenção e os iniciais de instalação tornavam quase impossível atingir o chamado break-even-point, o ponto de retorno do investimento inicial. E, como era certo para mim nos anos de desaforo de novas aberturas, chegou o fecho e os prejudicados foram os do costume, os funcionários que foram dispensados, mandados para os despedimentos negociados ou compulsivos !
Por aqui me fico quanto a isto para não se me soltar demasiado a língua.
A situação no Montepio foi e é de preservar enquanto Instituição com estes pergaminhos, Valores e finalidades.
Sempre esteve estável enquanto teve administrações como todas as de Costa Leal com administradores como Manuel Pina ( marido de Maria de Belém Roseira), Vasco Neves (pai de João César das Neves e já falecido há anos), entre outros. Gente sem grande visibilidade mas com um profundo conhecimento da Instituição , do seu negócio, e identificada com os seus valores. Sempre se disse que as Administrações do Montepio faziam um equilibrio entre pessoas mais ligadas à Igreja e outras que não. Mas funcionavam.
As coisas alteraram-se, a meu ver, quando esses sairam e deram lugar a pessoas muito ilustres, conhecidos banqueiros, ou não, gente que veio dos corredores burocráticos da Comissão Europeia, ultrapasada no saber do negócio bancário actual, banqueiros ou bancários de há muitas décadas, emproados, gente ligada aos cardeais e importante quase só por isso mesmo. gente importante por operações que terá feito no próprio Monepio. E isso não chega pois pode até dar cheiros de demasiado conhecimento dos corredores internos, ter criado dependências de muitas pessoas e algum “inside trading”.
Só tenho a dizer bem do Montepio, da maioria dos novos colegas que lá conheci e do seu inegável apego à instituição e à vontade visivel de vestir bem cingida ao corpo a camisola do Mutualismo.
Conheci no Montepio das pessoas com maior valor que me foi dado conhecer em vida. Bem formadas, feitas por elas próprias, muitas das que tantas vezes se dão como exemplos de virtudes, vontade e bondade nas mais diversas empresas e instituições. Das que entraram como grumos e se reformaram Gerentes. Mas isso, por si só, pode também englobar casos criticáveis, os que ultrapassam o princípio de Peter !
Por aqui me fico.
Desculpem e viva o nosso Montepio e o Mutualismo !
Carlos Pereira Martins



(Dra Maria Candida, viúva de Bento de Jesus Caraça e esposa de Costa Leal, connosco, eu e Teresa minha mulher, nos Açores)
Na foto seguinte, no seu gabinete ao lado do meu no 4º piso da Rua do Ouro.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Encontros Imaginários de Helder Costa na Barraca, 6 de Dezembro de 2021.

 




























97º Aniversário de Mario Soares e entrega do Prémio Fundação Mario Soares e Maria Barroso

 97º Aniversário de Mario Soares e entrega do Prémio Fundação Mario Soares e Maria Barroso

Com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Engº Carlos Moedas.

Sessão presidida pelo Dr Vasco Vieira de Almeida e Draª Isabel Soares, com a presença de João Barroso Soares, Gonçalo Galvão Telles, a Reitora da UL Dra Maria de Lurdes Rodrigues, Antonio Pedro de Vasconcelos, José Luis Carneiro em representação do Partido Socialista e Maria João Rolo , entre outras individualidades.

Sessão muito reservada, devido à dimensão do anfiteatro e às regras de saúde pública. Apenas trinta pessoas mas transmitido pela net.


















terça-feira, 30 de novembro de 2021

MAIS MONTEPIO

                                                                         Mais Montepio



Agora escrevo na primeira pessoa do singular !



Depois de vinte e seis anos na melhor escola bancária que Portugal terá tido, o Banco de Fomento Nacional,  em Outubro de 1987 mudei-me a convite do Presidente Costa Leal para o Montepio.


Até hoje, estou plenamente convencido que a “transferência” foi acordada e preparada entre as duas únicas personalidades que muito respeito e a que continuo a referir-me sempre como “meus Presidentes”, pessoas integras, honestas e para quem o dinheiro, mesmo o argent de poche, pouco dizia. Mesmo sendo dois Banqeiros. 

São eles António da Costa Leal do Montepio Geral, casado com a viúva de Bento de Jesus Caraça, de quem foi Assistente em Económicas, e João Salgueiro, Presidente do Banco de Fomento Nacional.

Na despedida formal do Banco de Fomento, João Salgueiro disse-me mesmo que nada era definitivo. ele próprio tinha saído pouco tempo antes do Banco para exercer o cargo de Ministro das Finanças e regressara. Que se eu não me desse bem no Montepio, tinha ali sempre uma porta aberta para o retorno. Isto foi muito importante para mim, vindo de uma pessoa que sabia não sermos sequer da mesma área politica, mas muito nos respeitavamos.


Na primeira reunião com toda a Administração do Montepio Geral, tinha na cadeira da presidência, por baixo do quadro  de Vieira da Silva, Vitor Melicias que me disse logo de entrada que ele era apenas o Presidente e de Banca pouco sabia. Quem sabia de Banca e Finanças, e assim poderiamos falar a mesma linguagem, era o seu colega Costa Leal que teria o meu pelouro.

Foi uma excelente apresentação com Manuel Pina e Vasco Neves, também administradores e logo vi estar entre gente boa, bem formada e com valores que eram os meus.


No final da primeira semana na área financeira do Montepio, a minha secretária informou-me que tinha ao telefone o Dr Silva Ferreira, por acaso um viseense, director da Supervisão Bancária do Banco de Portugal. Anunciou-me que iria na semana seguinte  um grupo da Inspecção Bancária do  Banco de Portugal  para o Montepio e me pedia para lhes arranjar um gabinete para se instalarem.

Vindo o grupo da supervisão, o Chefe da missão pediu para o receber para me colocar ao corrente dos trabalhos que iriam realizar e obter o meu acordo. Assim foi feito. Durante a reunião perguntoume várias coisas e entre elas quantos economistas tinha ali no Mercado de Capitais, área muito efercescente na altura. Respondi-lhe que tinha um. Só não acrescentei que  “o um” era eu mesmo e que tinha chegado na semana anterior, vindo do Banco de Fomento.

Havia mais economistas na Direcção financeira mas integravam a área do Planeamento e Controlo de Gestão, no Mercado de Capitais, Títulos, bolsa e na Tesouraia, não.


Ao falar da  Tesouraria  corre-me a memória logo para um homem de enorme valor e competência, o Senhor Manhoso Marques, pendular  na gestão daquela Secção. Até eu ser nomeado Director Financeiro, assumia esse cargo uma pessoa de enorme valor que conhecia do Montepio tanto como qualquer administrador, o Senhor Júlio de Carvalho. Feito Director subindo a pulso, homem de grandes convicções, um humanista e um grande mutualista. Não tivera formação universitária mas  sabia  da “casa” como poucos e era respeitado por todos os seus pares e por todo o país. Quando eu assumi as funções foi nomeado Director da Área Mutualista e passados poucos anos faleceu. Era um dos do célebre Grupo das Azenhas do Mar, todos gente boa.


 

Desde as primeiras conversas a sós com o Presidente Costa Leal que o fui alertando para  uma situação que, para mim vindo de fora e sem a fleuma natural dos que sempre viram a Instituição daquela forma, era mais que evidente.  Em todas as reuniões de Quadros, Directores da primeira linha da hierarquia ou de comerciais, era repetido que o Montepio tinha uma clientela muito fidelizada,  persistente, fiel à instituição, muitos com mais de quarenta anos de vinculos comerciais.

Mas estavamos na época do pós adesão à UE,  o comércio livre, o Mercado Único e a queda de fronteiras físicas e financeiras tinha acabado de chegar. No Montepio continuava-se a bater na tecla dos clientes fieis. Que não trocariam de Banco. Eu via que o discurso contrário, se eu o viesse a fazer em reuniões, era mal aceite e colocar-me-ia  quase na forca.  Os colegas comerciais sentir-se-iam ameaçados. Aprender  a actuar de forma diferente ao que tão bem sabiam, e sabiam mesmo, colocar em causa a sua “escola”, era um enorme risco para mim. Mas fui dizendo francamente a Costa Leal que  a partir de então qualquer comércio, mercearia que fosse ou retrosaria na Baixa, com possibilidade de comprar com vantagem em Espanha, Itália ou na Alemanha, por certo que o fariam. E ao Montepio, à Caixa Económia, estavam vedadas pelo Banco de Portugal quaisquer operações internaconais, que significassem outra moeda, ainda não chegara o Euro, ou outro país.

Tinha sido celebrado um acordo com o então Banco Pinto e Souto Mayor que fazia as operações de câmbios ou outras pouco sufisricadas e  nos passava  o resultado para servirmos os nossos clientes. Mas o Souto Mayor ficava a conhecer o nosso cliente último benficiário e só por tolice ou descuido não o iria cativar dizendo-lhe que o serviria directamente e de forma mais barata, é claro.

Portanto, para manter a enorme base de clientes fidelizados ao longo de muitas décadas, havia que obter  a autorização do Banco Central para o exercício do livre e integral comércio intercional, o chamdo pleno de operações bancárias.


As relações com a Administração do Banco de Portugal sempre tinham sido muito francas, sãs e até chegadas, sempre escorreitas e profissionais.

Estava com o pelouro que poderia autorizar o Montepio o Dr Antonio Martha que tinha sido também meu administrador no Banco de Fomento Nacional. O Dr Costa Leal pediu uma reunião formal mas antecedeu-a com um almoço no Hotel Mundial onde estive com ele e com António Martha, um homem exemplar. Por mim, falei com todas as palavras, dei a minha opinião e bati-me pelo Montepio. 

Na Adinistração do Banco de Portugal estiveram também outros antigos colegas de Costa Leal  e também Alberto Ramalheira, regressado das ex colonias aquando da  descolonização, passando pela Junta de Crédito Público e pelo BP. E Manuela Morgado, minha tia por afinidade, que fora Presidente da Brisa, do BNU da Autoridade Monetária de Macau e comadre de Ramalheira. Mas estes estiveram no Banco de Portugal em tempos não coincidentes com Antonio Martha que viria a decidir autorizar o Montepio a praticar o pleno de operações, as internacionais incluidas.

Manuela Morgado, como disse, com relação familiar comigo, viria a assinar as primeiras e últimas notas de Dez Mil Escudos e as de Cinco Mil. Mas, como sempre esclareci, comprei algumas para ficar com essa recordação familiar mas nunca mas vendeu com desconto, comprei-as sempre “ao par” ! Um  pormenor de bom humor ajuda sempre as leituras e facilita a compreensão dos textos.

Anos mais tarde  passou pelo Montepio uma senhora de quem ainda fui director que viria a sair para liderar uma coisa do BES, de Ricardo Salgado, uma espécie de um Banco por internet, o BEST.  A senhora deu uma série de entrevistas, penso que promocionais sem que tenha tido o cuidado de  pesquisar  o que teria acontecido antes. Anunciou-se e fez-se anunciar como a primeira  mulher  Presidente de um Banco em Portugal. Não foi verdade e a imprensa também não fez o seu trabalho. Já  muito antes a Dra Manuela Morgado tinha sido Presidente do BNU, essa, sim, a primeira Mulher  Presidente de um Banco em Portugal, de um grande Banco, emissor em Moçambique.



Convirá ter presente que o Montepio foi sempre privado, dos seus Associados. 

Mesmo na altura em que toda a Banca foi nacionalizada, nenhum governo se atreveu ou teve a  ousadia de tocar sequer com um dedo no Montepio.

Porque era bem sabido quanto o Montepio representava para a economa nacional, para  o que podemos chamar o tecido social puro, nomeadamente através da concessão que  lhe era quase exclusiva, com o CPP e a CGD apenas,  do crédito à habitação e à construção. Uma perturbação no Montepio, uma dificuldade em continuar a fluir a concessão de crédito à habitação e construção e haveria uma enorme convulsão social em Portugal.

Também é verdade que as nacionalizações da Banca e Seguros foram tomadas e executadas pelo 5º Governo, de Vasco Gonçalves. E o peso do PCP  em toda a estrura do Montepio, desde a CT aos “Quadros” colocados nos lugares de charneira e decisivos, era grande. Assim, não haveria necessidade de o nacionalizar nem se corria o risco de o Montepio poder boicotar a economia pois o alinhamento com o Programa do MFA, nessa altura até mais com a estratégia  do PCP, era enorme.  E havia também o peso grande do PS na estrutura, sobretudo nas administrações. E, claro, da Social Democracia de Sá Carneiro ainda que este tivesse surgido mais tarde, depois do protagonismo e oposição  ao regime  do Estado Novo e ao Marcelismo que teve na chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional.

Importante e histórico foi que toda a Banca e Seguros foram nacionalizados e no Montepio ninguém ousou tocar !



Veio a autorização e o pleno de operações para o Montepio.

Deitei mãos à obra e ao projecto de Costa Leal logo que o Banco de Portugal deu ao Montepio o pleno de operações, incluindo as internacionais.

Fui  buscar e rodear-me de pessoas com experiência na área e operações internacionais. 

Algumas para a  área operacional e fiz o acordo e a compra do sistema Swift, para a  área do Correspondent Banking, recrutei dois técnicos que já conhecia do mercado e celebrei acordos  com Bancos Correspondentes  nos países onde presumia vir a ter operações ou por via das empresas nossas clientes ou  para a recolha  de remessas dos emigrantes portugueses domiciliados nos vários países da Europa Central, Canadá, sobretudo açoreanos, e nos Estados Unidos da América.

Aí surgiram as dificuldades  já antes relatadas noutro texto. 

Quando Costa Leal me deu a incumbência, me nomeou Director Internacional e tive que ir apresentar a instituição  aos Bancos estrangeiros nesses países, passei por autênticos flagelos. Só em Itália, Espanha, França e no norte do Canadá, Montreal e Quebéque havia instituições parecidas. As Cajas di Risparmio com destaque para a mais antiga instituição bancária , o Montipaschi di Siena em Itália, as Cajas de Ahorro em Espanha , as Mutualités em França  e pouco mais.

Dos meus colegas directores internacionais dos Bancos com quem tinha que celebrar Acordos de Correspondência, a pergunta era sempre a mesma, “então o Banco pertence a que qem, a que grupos, quem são os accionistas?  E o Capital Social, como é? “

Não  tem accionistas, pertence por inteiro à Associação Mutualista, não tem acções, tem um Capital Fundacional que não é representado por acções !  “Então e o Estado, qual o papel do Estado Português no Montepio, quanto lá tem?”, perguntavam-me.

Tinha que lhes recordar que o Montepio era cem por cento privado e o Estado tinha os Bancos públicos e algumas posições em Bancos privados, sem grande relevo ou não fazendo uso delas, até  então.

Não entendiam  e saía-me do corpo fazê-los perceber e vir de lá com os acordos assinados e manter as relações e operaçõs internacionais ao longo dos anos em que estive no activo.


Fui com outro Administrador, Herlander Estrela, infelizmente já falecido, apresentar o Montepio a  pretensos Bancos Correspondentes em Inglaterra, França, Suiça e Alemanha, logo de início. Foi tarefa difícil mas bem sucedida.


Posto isto,  queria não inventar a pólvora mas seguir o exemplo dos outros Bancos portugueses  na captação das remessas de emigrantes . Aqueles nossos compatriotas que não se contentaram, face ás dificuldades da vida em Portugal naqueles anos do Estado Novo, em ficar nas aldeias e vilas a beber copos e jogar às cartas nas tabernas, pegaram na trouxa e foram procurar melhor vida no estrangeiro. O sucesso foi imediato. Os trabalhadores portugueses faziam o que os aí residentes não queriam fazer, o trabalho duro, mas  de forma árdua, eficaz e profissional. E dessa forma conseguiam enviar remessas importantes para as famílias em Portugal e, mais tarde, levaram-nas  mesmo   para junto deles e arranjaram-lhes também trabalho. Aí se via  a audácia, o apego ao trabalho e a  alma do trabalhador português. E, a este esforço, Costa Leal e o Montepio queriam  estar associados, estar fisicamente perto e ajudar com proveitos para a instituição bancária.


Foram seguramente dois anos em que não tive fins de semana. 

Em Portugal, não quero ser negativo mas no desconhecimento deveria pensar-se que eu andaria só a passear ! Absolutamente mentira mas da fama nem sempre nos livramos. Há é que ter estofo para fazermos de cara lavada aquilo que é útil e de que gostamos. 

Socorri-me das associações locais de portugueses, dos seus mais destacados elementos e dirigentes e com alguns deles percorri, palmo a palmo, fins de semana a fio, durante a semana eles trabalhavam,  os países  de emigração portuguesa, toda a Europa Central, cidade por cidade. Depois, vieram os acordos e as contas do Montepio abertas nos Correios de cada aís,  nos  Bancos Postais  desses países, onde os emigrantes iam  depositar eles próprios e directamente as suas poupanças  dirigidas imediatamente para as suas contas no Montepio em Portugal. 

E em cada país estranjeiro formei uma rede de promotores/colaboradores que, a troco  de pequenas recompensas, a maioria eram dirigentes associativos e mutualistas de raíz, distribuiam uns baralhos de cartas com a imagem do Montepio, uns aventais, umas esferográficas e promoviam as Corridas da Liberdade em Abril, as Grandes Noites de Fado de Genève ou Frankfurt, muitas vezes eu e o Vitor Ramalho, Secretário de Estado das Comunidades aguentamos noitadas para no final entregar os prémios  e outras iniciativas como os Grupos de Teatro e  Grupos Folclóricos que havia onde estivessem portugueses. 



De seguida, poucos  anos mais tarde, Veio a incumbência de abrir espaços  físicos nesses países, onde os clientes pudessem mesmo dirigir-se. E uma vez mais  tive razões para me encher de orgulho pois fiz tudo quase sózinho, desde a chegada ao país, procura de local para nos instalarmos,  organizar tudo, recrutar pessoas, todos portugueses que vieram já de outros Bancos portugueses aí instalados, logo, a saberem já do ofício e uma vez mais realizar eu acções de formação aos fins de semana para funcionários e colaboradores/promotores.

Eram os Escritórios de Representação.



Paris 

O primeiro Escritório de Representação do Montepio acabaria por ser aberto em Paris em 1998. 

Desde a minha juventude que ia com alguma frequência a Paris e, mais tarde, por força dos compromissos como administrador  de um  SICAV e a cooperação com a Banque Française de Crédit Cooperatif, em Nanterre. 

Nunca, naquelas várias dezenas de vezes que deambulara por Paris, onde sempre consigo encontrar ambientes novos ou matar saudades de outros vividos, me tinha passado pela cabeça que um dia viesse a ser responsável e a realizar eu próprio a abertura de um Escritório de Representação de um banco português, muito menos do Montepio, uma instituição prestigiada, mas assumidamente, operando no mercado bancário doméstico em Portugal. 

Traçou-se o objetivo e comecei a trabalhar no projeto. Em Paris, fui buscar todos os apoios com que poderia contar. 

 

E outros contactos que procurei entre amigos noutras instituições, por exemplo no Crédit Cooperatif,  pessoas conhecidas de outras épocas na Banque de France. 




Com o Dr. Costa Leal no dia da inauguração do Escritório de Paris 




 


                                                                  Toronto 

Uma vez aberto o Escritório de Paris e uma vez a funcionar e em plena atividade, o presidente Costa Leal logo me apressou para a tarefa de abrir uma delegação também no Canadá onde havia uma forte comunidade lusa, designadamente oriunda dos Açores e do Minho, no continente. 

 



A inauguração do Escritório de Toronto (1998) 

A escolha acabou por recair em Toronto já que a comunidade no Ontário estava mais concentrada, não apenas em Toronto mas também numa cidade satélite, Mississagua, em Hamilton e em várias outras. 

Desloquei-me a Toronto várias vezes, recolhi os apoios necessários estabeleci contactos e acabei por me envolver mais do que em Paris, já que tive sozinho de escolher e arranjar um espaço para alugar, entrevistar e contratar pessoas e ainda de dialogar continuadamente com os advogados para organizar o processo de autorização de abertura. 





O meu gabinete no Escritório de Toronto 

Percorri a Dundas Street West variadíssimas vezes durante ano e meio. Falava-se português em toda o sítio e os escritórios do Banco Totta, Banco Comercial dos Açores e Sotto Mayor estavam ali localizados. 

Fui-me apercebendo, nas várias visitas, que a Dundas Street estava a ser tomada gradualmente pelos chineses. Desde a baixa de Toronto, a Chinatown local, as lojas e comércios chineses progrediam na Dundas Street. O escritório do Totta & Açores e mesmo o do Banco Comercial dos Açores, estavam já rodeados por lojas chinesas. 

Então, decidi optar por um local mais para west onde o fenómeno não era tão visível e os portugueses continuavam em força. Arranjei uma loja mesmo ao lado do restaurante português Rambóia, próximo também da Casa dos Açores e do Clube Asas do Atlântico. Foi preciosa a ajuda que obtive do Sr. Carlos Medeiros, um português que trabalhava mesmo ao lado nos escritórios da Remax, quando ainda não se fazia ideia em Portugal do que era a Remax. 

Decisivos foram também os apoios de outros luso-canadianos. Charles de Sousa, posteriormente Ministro das Finanças do Canadá, na altura a trabalhar no Royal Bank of Canada e do seu pai, António Sousa, um dos primeiros pioneiros emigrantes no Canadá e oriundos da Nazaré, de Mário Silva, um jovem político de origem açoreana, na altura vice-presidente da Câmara de Toronto, e ainda de muitos outros. 




A equipa do Escritório de Toronto
Por diversas vezes fui ao telejornal da emissão em português da CFMT, a 

televisão local que tinha programação diária na nossa língua. 



                                                                Frankfurt


Mais em baixo a saudação do Dr. Costa Leal, Presidente do Montepio 

Na Alemanha, tinha já desde quase o início da abertura da Direção Internacional, uma rede de colaboradores a funcionar, coordenada por Luís de Freitas, na altura a trabalhar no Departamento de Qualidade da Rolls Royce e que residia em Frankfurt. 

Frankfurt era o centro financeiro por excelência, com o Banco Central Europeu, e com o Departamento Financeiro do Post Bank com o qual tinha assinado um acordo para que se processassem as transferências para Portugal, enfim, existiam várias outras razões para ali localizar o escritório, tal como vários outros bancos portugueses o tinham feito. 

 




 

Inauguração do Escritório de Frankfurt (2001) 

Luís de Freitas deu um apoio precioso, foi replicado o modelo aplicado em Paris e Toronto, ajustando alguns detalhes aos usos e costumes alemães, com alguma dificuldade na escolha do local, conjugada com um preço equilibrado a pagar e procurando não exceder o previsto. 


Também o recrutamento de pessoal foi feito localmente e acabámos por selecionar, depois de um processo de anúncio e entrevistas aos interessados, a D. Otília, uma senhora oriunda do distrito de Aveiro mas já a residir e a trabalhar na Alemanha há algum tempo e com a mais valia de ter trabalhado no Consulado de Portugal e conhecer bem a comunidade lusa local. 



                                                                  Genebra 

Vista exterior do Escritório de Genebra


Placa comemorativa da inauguração do Escritório de Genebra 

Aberto o Escritório de Frankfurt, comecei a trabalhar na abertura de Genebra. Refira-se que a Suíça foi um dos primeiros países de destino de emigração portuguesa a ficar coberto com uma rede de colaboradores e angariadores de remessas para Portugal. 

Com esse objetivo em mente fiz também um acordo com La Poste, o banco postal dos correios suíços que recebiam e processavam as transferências dos clientes. 

Pelo volume que essas remessas atingiram, justificava-se a abertura de uma estrutura de apoio direto local. Foi na altura escolhida Genebra, não só também pelo posicionamento dos escritórios dos restantes bancos portugueses mas pelo facto de a Suíça francófona ter um peso relevante entre os clientes, apesar de ter arranjado um colaborador e vários clientes até na Suíça italiana, no Ticino. 

Outras regiões importantes eram Lausana, Neuchâtel, Gruyére, Bulle, Berna, Zurique, Vaduz no Liechtenstein, nas mais recônditas estâncias de turismo e de neve, isto porque os emigrantes portugueses na Suíça trabalham sobretudo na hotelaria, tinha colaboradores e captava remessas com essa origem. 

Também para o processo de abertura, o Dr. Pedro Sameiro, conseguiu, a partir de Lisboa, um dos melhores escritórios de advogados locais, Maitre Venturini, em Genebra. 

 

Com paciência e prudência, acabei por encontrar as instalações, sempre muito em conta. As obras de adaptação, neste caso, foram feitas pelo Departamento de Instalações de Lisboa e foram, não sei se por isso, muito demoradas. 

Localizam-se na Rue Terreau du Temple, mesmo próximo da estação de caminhos de ferro, La Gare. 

A equipa local foi escolhida por mim, depois de um processo de seleção com anúncio e entrevistas e integrava José Ferreira, o chefe do Escritório, António Santos, por acaso natural da zona de Viseu mas já há anos na Suíça e Maria Filomena que trabalhava já, também, numa empresa local. 





                                                   Newark, Nova Jérsia (EUA) 

 



Windows on the World - Restaurante da inauguração no cimo das Torres Gémeas

                                                      Em fundo as Torres Gémeas 





Placas comemorativas da inauguração das duas estruturas em Nova Jérsia, Newark 

Acabado o programa de aberturas e cobertura dos principais centros de destino de portugueses na Europa Central, dado que havia já o escritório aberto em Toronto, Newark, em Nova Jérsia, defronte de Nova Iorque, era um destino natural, não só pelo peso da comunidade lusa, por exemplo, a Ferry Street com a sua parada anual do 10 de Junho era disso uma prova concludente, mas também porque as duas unidades poderiam começar a funcionar com economias de escala e ajuda mútua. 

Depois da decisão de abrir o novo escritório de representação pelo Conselho de Administração do Montepio, em Lisboa, deitei mãos à obra, seguindo o programa de abertura que tinha criado e aperfeiçoado ao longo dos anos e que, naturalmente, começava pela necessidade de apoio jurídico local para a apresentação às autoridades norte-americanas do respetivo dossier de proposta de abertura. 

As duas advogadas que me foram indicadas pelo diretor jurídico, em Lisboa, trabalhavam no piso 47 das Torres Gémeas de Nova Iorque. 

Visitei-as algumas vezes ao longo dos dois anos que o processo demorou até estar definitivamente autorizado. Algumas vezes me convidaram, após as reuniões que fazíamos, para almoçar no restaurante do topo das Twin Towers, o Windows on the World, que tinha uma vista espetacular com Manhattan aos nossos pés. 

Administrador do Montepio e embaixador António Monteiro no restaurante Windows on the World no topo das Torres Gêmeas 



Mas, como a comunidade portuguesa residia e trabalhava, sobretudo, do outro lado do rio, em Newark, Nova Jérsia, o escritório seria aberto aí, o que implicou diversas visitas a Nova Iorque e à Ferry Street de Newark. 

Havia espaços disponíveis, mas eram caros, pois os portugueses que os tinham, sabiam que iriam alugar a um cliente que era um banco. Rejeitei uma boa loja de um antigo restaurante, as instalações deixadas já por outro banco, o Totta & Açores, e algumas outras e acabei por descobrir a meio da Ferry Street uma loja cuja proprietária estava cansada de a ver alugada por pouco tempo e a ver os inquilinos saírem, mudando de negócio e de cidade. 


Tive a enorme vantagem do argumento que ao alugar ao Montepio, seria por, assim o esperavamos, muitos anos. E o preço chegou a um patamar aceitável de negociação. Vieram a seguir as obras de adaptação a cargo do meu colega e também diretor, Eng. Correia Brás. Fiquei muito contente com o trabalho ali realizado, fomos lá os dois algumas vezes, e a relação de amizade e respeito mútuo pelo trabalho de cada um, ajudou bastante para a boa conclusão deste projeto. 


E, veio a seguir o processo de seleção da equipa local. A escolha acabaria por recair, após várias entrevistas a candidatos locais, em António Ferreira para a chefia de Newark. Trabalhava na altura na Missão Portuguesa nas Nações Unidas e tinha trabalhado em Portugal no Banco Pinto & Sotto Mayor. Ele próprio indicou a segunda pessoa, um português que estava também já há anos a trabalhar na zona do Ironbound, Newark. 



Nesta altura, as Torres Gémeas ainda existiam. O almoço de inauguração realizou-se, no topo, no restaurante Windows on the World. 


Em cima, duas imagens tiradas nesse dia no topo das Twin Towers 

  


                                                        Londres 



Placa comemorativa da inauguração de Londres (2003) 





A equipa de Londres comigo e com o Dr. Alberto Ramalheira 




Vista exterior do Escritório de Londres 

  




Notícias sobre a inauguração do Escritório de Londres