terça-feira, 28 de abril de 2020

Acreditem que este pedaço de vida nunca foi contado, é mesmo a primeira vez que dele falo publicamente.


Hoje, ocupando tempo de mais um dia de retiro caseiro, vi num canal de cabo o filme Grace Kelly.
Grace, foi actriz americana e mais tarde Princesa do Monaco casada com o Principe Rainier, passou a ser uma da Família Grimaldi que ainda hoje detém a soberania do Principado.
Stephanie do Monaco e eu com o meu visual de 1984

E, com o filme, veio-me este pedaço de vida minha à memória, tão longe que ele andava.
Nunca dele falei publicamente não por alguma razão em especial mas porque não tem relevância suficiente para o ter feito e sempre achei que poderia ter o inconveniente de, ao falar dele, me criticarem  por pretenciosismo, por me querer fazer vaidoso.
Daí que nem num livro de memórias e percurso de vida há anos publicado o tenha mencionado ao de leve que fosse.

Cá vai, então.



No dia 22 de Outubro de 1984, realizou-se no Autodromo do Estoril o 4º Grande Prémio de Portugal de Formula Um. Nesse dia, tomei o pequeno almoço, cedo, na motorhome da Mac Karen, onde corria também Alain Prost.  AS pessoas e os convidados iam chegando, tomavam pequeno almoço, falavam entre si os conhecidos  e, um pouco mais tarde chegavam os pilotos que nesses tempos ainda se dignavam por ali ficar e também pequeno almoçar, ao contrário do isolamento que anos mais tarde passou a ser praticado.  Na mesa onde estive sentado  estava também uma  jovem que vestia um blusão preto da Boss, marca que patrocinava a equipa MacLaren. Via-se, no entanto, que não era um membro da equipa, antes uma convidada e muito rodeada de atenções.  Quando o Alain Prost chegou veio de imediato sentar-se na mesma mesa e tomei parte no entusiasmo da conversa que se seguiu. Durante essa manhã, cruzei-me algumas vezes com a jovem do blusão preto da Boss e fiz algumas fotografias  de forma discreta, para nada que não fosse corresponder à minha curiosidade sobre a pessoa que desconhecia.  Assisti a grande parte da corrida na box da Mac Karen onde a jovem passou também a maior parte do tempo.
A jovem Stephanie com o blusão preto da Boss

Mal poderia eu pensar que poucos anos mais tarde eu viesse a ser Administrador do Autodromo do Estoril e viesse ali a ter outras mordomias. Mas, para o meu gosto tão forte e desde sempre pelos desportos motorizados e pelos automóveis, aquilo chegava-me perfeitamente.

Antes do inicio da corrida, tive, contudo, a curiosidade de perguntar  a um elemento da equipa quem era a jovem. Fiquei incrédulo, era Stephanie, a filha de Grace Kelly, ela mesma membro da Família Grimaldi, filha do Principe Rainier.

Comentava-se na altura sobre o interesse da Princesa Stephanie em vir assistir à corrida, coisa eventualmente relacionada com um dos pilotos de F1. Não era coisa que me interessasse.
todo aquele meio, na altura, fervilhava de casquine que me deixava em posição de guarda, de defesa, para não me distrair do que me interessava mesmo, os automóveis.

Talvez por me ter achado mais discreto que toda aquela gente que a rodeava e aos carros nem parecia ligar, ela própria me perguntou de que país era, fez piada com o meu bigode, o moustache , que usava na altura e perguntou-me se tinha alguma função ali ou era da imprensa. ficou admirada por apenas ser um forte admirador e gostar das corridas e estar também convidado.
Pediu-me a certa altura para lhe fazer algumas fotos com a maquina dela, o que me deu oportunidade para lhe contar da minha paixão pela fotografia, não sabia se maior ainda do que pelos automóveis.

Semanas volvidas, enviei-lhe para o Monaco algumas fotos dela própria mas feitas com a minha máquina.
Espanto meu,  ainda antes do Natal, recebi uma carta de Stephanie agradecendo, falando-me de coisas outras que não apenas dos automóveis e da F1, dizendo-me que quando passasse pelo monaco seria sempre bem recebido pela família Grimaldi. Chegou o Natal e recebi assinado por Rainier e por ela própria, um cartão com os votos de boas Festas que ainda guardo. Quase de seguida, chegou-me o postal oficial com a foto de toda a Família e assinado à mão por cada um dos seus membros.

Ainda  houve mais correspondência que muito me honrou e que me proporcionou, no ano seguinte, em férias, ser recebido na fabrica da Ferrari em Maranello, eu, o meu filho e o meu sobrinho/primo Luis Santiago Baptista, termos uma visita privadíssima com entrada do meu Fiat Mirafiori da altura  nos portões da Ferrari e tudo, ver com detalhe como são lá tratadas as "Máquinas do Cavalinho" e de lá sair com um livro assinado à mão pelo comendador Enzo Ferrari!


Veio a seguir um tempo em que Stephanie do Monaco foi muito falada pela paixão e vida que teve com um artista de circo, se não estou em erro. A partir daí, ter-se-á isolado mais e acabou a troca da simpática correspondência.

Já o tenho dito e vou repeti-lo: a minha vida não foi nada monótona. E fui um sortudo  tremendo!

Carlos Pereira Martins


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