Durante muitos anos, dir-se-á que desde sempre, as pessoas tiveram receio, vergonha, e procuraram evitar deixar transparecer sinais de falta de cultura e mesmo de ignorância.
Ser ignorante, não ter cultura, não saber escrever ou falar com correcção, não ter um nivel médio aceitável de cultura geral, sempre foi motivo de vergonha por ser sinal entendivel de estatuto social muito baixo, por ser motivo de falta de poder, de discriminação pela negativa.
Um aluno sentia vergonha se dava erros na escrita, se pronunciava mal uma palavra num exercício de leitura. Um professor, um jornalista e muito mais um locutor, sentiam vergonha se lhe apontavam erros graves na escrita ou na leitura.
Nas décadas mais recentes, esta grelha de valores tem vindo a alterar-se muito significativamente.
A sociedade em geral, os meios de comunicação e a “moda” actual, desenvolveram um processo que está em curso, é dinâmico e caracteriza-se pelo desmoronar, pela perda de importância de valores fundamentais para a vida em sociedade, para a partilha necessária, para a convivência e para o exercício da cidadania, muito mais para uma necessidade fundamental para viver a vida com dignidade e com maiores níveis de felicidade, a solidariedade.
Assentou-se no pressuposto que a falta de cultura, a falta de conhecimentos, o facto de não ler uma vez que seja, na vida, um único livro e poder falar como se entenda, basta que a sonoridade seja parecida, o grafismo e a morfologia não interessam, não tem qualquer importância.
Que mal faz se as pessoas se entendem? É preciso é simplificar, com o menor custo possível.
Começou a ser criado um enorme exército de ileterados, de pessoas que na prática não sabem ler, escrever e falar correctamente. Tecnicamente não são analfabetos. Andaram na escola ou tiveram mais estudos. Mas deixaram deteriorar o que aprenderam. Agora, é como se o fossem.
E há os que sabem ler, escrever, até falar mas a perda de referências e de valores fundamentais tornou-os, na prática, “analfabetos sociais”.
Quem sabe, quem pode, quem manda e controla e quem detém os meios sabe bem para o que os quer. Trata-os como analfabetos, como um exército de pessoas que não têm ambição pelo saber, pela qualidade, pelos valores. Trata-os como lixo, indiferenciado.
E basta parar e observar como as telvisões, as radios e os jornais lhes fornecem a informação e conhecimentos, como lhes formatam as mentes e os gostos.
Cientes de tudo isso, criam programas sem conteúdo, dão-lhes comédias, coisas que fazem apenas reagir os sentimentos primários, superficiais, o fazer rir ou chorar, as emoções singelas.
Atolam-nos nesses conteúdos. E não importa que quem os escreve o faça com erros, que quem com eles comunica o faça com erros também, com palavras mal pronunciadas e escritas. A qualidade, está mesmo fora de questão e dá-se-lhes até a ideia que com esta facilidade, sem pressão de escrever ou falar bem, todos são muito mais felizes. Por isso mesmo as capas de jornais aparecem cheias de erros primários, as legendas na televisão seguem o mesmo caminho. Já não há quem corrija pois já não é sequer preciso.
E bem pode dizer-se que, no entanto, tudo o que é oferta, produção, o Mercado, está atento e funciona em função deste exército de ignorantes e incultos. As televisões, os jornais e as radios degladiam-se na criação de conteúdos dirigidos a esta “espécie” de cidadãos. Conteúdos para gente que quase não sabe falar e escrever, gente sem valores e, muito mais grave, sem vontade para os ter, para ser diferente.
E, quando esses conteúdos que provocam as reacções emocionais de comédia ou choro já não chegam, atolam-se as pessoas com as imagens das mais horrendas tragédias e crimes. Sem qualquer rede de protecção, sem crivos de salvaguarda dos direitos de quem quer que seja. É preciso é fazer sentir, emocionar, ocupar e interessar.
É já uma arrepiante maioria de gente assim criada. Que apenas quer o que é superficial, elementar, frivolo, o horrendo, mas que distrai ou diverte. De forma a que esta maioria possa entender e digerir.
Tudo isto, o que agora ficou escrito, não é sequer novidade, toda a gente o sabe, certamente.
Mas por isso mesmo e porque está a fazer uma enorme escola, está a propagar-se e sem crítica ou contraditório visível, é necessário partilhar a indignação e a perplexidade.
O aviso que isto assim não pode continuar, fica aqui feito.
Não pode porque o caminho por onde nos levam esbarra num muro, não tem continuação.
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