quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

É DIFERENTE !



É diferente. Dizem-me que não é pior nem melhor, é diferente.


Há anos atrás, calhava, muito raramente mas calhava mesmo, cruzarmo-nos com uma pessoa na rua que iria a falar sozinha, não apenas com os seus botões mas  num tom de  voz que permitia que quem por ela passava ou seguia  perto, ouvisse tudo o que dizia. Era o inicio da época do telefone móvel. 
As reacções podiam ir da simples ignorância, a um sorriso maroto que significava que a pessoa era ou estava tola, até uma interpelação mais brusca fazendo-lhe ver que aquilo não era um comportamento normal.

Hoje em dia,  raro é  não encontrarmos, na rua, no metro, no autocarro, na janela do carro do lado, atrás ou à frente, pessoas a falarem sabe-se lá com quem, mas a falarem, a gesticular e, os mais calmos, apenas a dedilhar écrans de maquinetas espalmadas na  mão,  a dactilografar quase romances com a perícia que, outrora, quem cursos tinha de dactilografia, não lhes chegaria aos calcanhares, nem em rapidez nem em destreza.

Há anos atrás, quando de manhã sa saía à rua,  de duche tomado e ainda muito de bem com todo o mundo, se nos cruzávamos com uma pessoa ao sair da porta ou já no trajecto, era habitual dar os bons dias. Se a pessoa não era mesmo conhecida, isto quer dizer que nem de vista, passava-se calado mas com ar respeitador. Se era conhecida, ou vizinha, ou habitual naquele mesmo trajecto diário que era o nosso, então, davam-se os bons dias. Nos meios mais pequenos, parava-se, muitas vezes, e perguntava-se pelas pessoas lá de casa, se estava tudo bem, se havia noticias dos familiares e amigos ausentes. No que éramos retribuídos e uma pequena conversa  que aproximava as pessoas, tinha tido lugar.

Há poucos dias, tinha feito uma centena de metros, em passos não sei calcular, e uma jovem na casa dos trinta, ar bem parecido, executiva, ainda estudante, de doutoramento ou mestrado, talvez, também poderia ser secretária de alguém, apareceu-me pela frente mesmo quando virei a esquina da rua. E disse-me "vai à merda, julgas que ando aqui para trabalhar para ti?" . Ia mesmo para a interpelar, para lhe fazer ver que nem sequer nos conhecíamos  quanto mais a trabalhar para mim ! Quando reparei que não era comigo que a senhora falava. Era com alguém do outro lado do seu telemóvel que levava colado ao ouvido !
Nos transportes, hoje em dia, ouvimos,  alto e bom som, o que muitas vezes se calcula que Maomé não diria do toucinho, nem o mais incauto nas questões pessoais ou na sua intimidade, deixaria escapar, alto e bom som, para o chamado "publico em geral" !

Desde há muitos, mas mesmo muitos anos atrás, num jogo de futebol, as pessoas festejavam os golos.
A festa do golo, dizia-se.
E era essa, também se dizia, a essência do futebol. Até a UEFA e a FIFA foram fazendo leis do jogo que favoreciam quem atacava, não beneficiar o infractor se disso pudesse resultar perigo ou mesmo golo, na dúvida, dar vantagem a quem atacava, coisas simples mas todas nesse mesmo sentido  de favorecer fazer golos.

Hoje em dia, deixou-se de festejar o golo. Ou quem o faça corre o risco de ser chamado tolo a seguir pois, uns minutos depois da festança, de soltar o ar dos pulmões e encher o peito de orgulho e a cabeça e o coração de grande alegria e emoção, vem um VAR que vê, revê, pensa e deixa estádios cheios a pensar, a suspirar ou a temer por larguíssimos minutos e anula, por questão  milimétrica que nem a matemática, ciência exacta, poderá alguma vez confirmar. Mas fica anulado e a multidão mete, como dantes se dizia, a viola ou o violão, no saco.
Para compensar ou não, foi inventado muita coisa. Por exemplo, a chamada "primeira fase de construção" ! E, haja golo ou o VAR o anule, ganhem-se os jogos ou percam-se, até os treinadores desvalorizam os resultados desde que ... a equipa seja mais forte NA PRIMEIRA FASE DE CONSTRUÇÃO !

Aprendi muito nos últimos tempos.
O suficiente para, aqui chegado, escrever, em consciência, que não é melhor nem pior.
É DIFERENTE. 
Os tempos são outros e há que entender isso!

Carlos Pereira Martins

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