domingo, 9 de fevereiro de 2020

As minhas compras libidinosas no Mercado 31 de Janeiro, ás 7.30 horas DA MADRUGADA !



É conhecido, entre os meus amigos,  o meu gosto pelas compras matutinas, aos sábados, nos mercados. Seja no Mercado de Viseu, no Mercado de Benfica, no Mercado da Ribeira ou, como hoje, no Mercado 31 de Janeiro, ali ao Saldanha, bem no centro da cidade.

Logo à entrada deste mercado, dou de frente com a vastidão dos legumes.

Repolhos, nabos e grelos, não é o que me desperta ou faz parar a esta hora ainda quase  madrugada. Talvez me tenha ficado um pouco dos sentidos nos grelos viçosos mas não tão forte que me tenha feito desviar da rota que inconscientemente tinha traçado, directo ás alas laterais, com vários talhos alinhados,  onde a luxuria da carne fresca, carnes nuas e cruas em todo o seu esplendor e toda bem exposta me levou a olhar, parar, ver e penso que terei mesmo desejado... levar umas quantas costeletinhas de borrego, coisa sem muita gordura e que ajuda à qualidade da saúde.

Que,  das vacas e cabras, nem o chamamento apelativo  dos interiores e dos nacos suculentos ali expostos, bem abertos e rosados, me fizeram gastar um cêntimo que fosse.

Resisti, assim, a toda aquela tentação  que a carne proporciona. Resisti, e bem, ao chamamento da carne, que ela é dita fraca mas,  na imaginação de cada um,  tem muita força e poder  criativo.

Derivei para o centro onde as bancas do peixe  cobriam toda a zona.
Foi então que me deparei  com uma contradição que ainda não consigo explicar.
Na carne diz-se que está a razão de todos os pecados da humanidade, sempre assim foi pregado. O peixe, é coisa quase santificada que dá saúde aos doentes e não faz crescer nem as libidos nem os tempos de copulação, diz-se.


Mas as imagens que se me deparavam ali à frente dos olhos não me faziam nisso acreditar. Pelo menos sem me questionar e, daí, resultou esta profunda reflexão e este amontoado de linhas.






Garoupas, pescadinhas, algumas talvez ainda de tenras carnes e idades, a ver pelo ar e pelo fisico delas, douradas, umas mais rechonchudas, outras mais elegantes, ostras bem abertas e saídas das suas cascas protectoras, chaputas, mas essas, são o que são e já ninguém acha estranho que apareçam naqueles preparos ousados e pecaminosos, todas elas e algumas de outras boas famílias cujos nomes não vou agora reproduzir à exaustão, até por respeito à aristocracia de águas doces e salgadas,  ali alinhadas com ar lascivo, mas apelativo,  que soltavam nos silêncios  barulhentos do ambiente do mercado cânticos de sereia, inebriantes mas


todos no mesmo sentido: "leva-me contigo" !
De há uns tempos para cá, até alguns pargos, robalos, estes menos, linguados e carapaus dos que nem são de corrida,  se mostram alinhados com a mulherada de  barbatana mais ou menos longa e dengosa, alinhando  nas mesmas posturas, na disponibilidade para vir com o primeiro que por eles ofereça dinheiro que se veja.  Quem mais idade já tenha, dirá que este mercado está virado do avesso,   já não há respeito nem vergonha.

Deviam vê-las ! E vê-los, também. Todas alinhadas, oferecidas a quem passa, algumas de olhos abertos, outras com eles semi cerrados mas a ver tudo.. outras com eles fechados mas por certo tão vigilantes e sabidas como qualquer outra! E alguns deles, dos ditos peixes machos,  já lhes não ficam atrás !

Confesso que a algumas destas  fêmeas de barbatana abanada não resisti mesmo.
Comprei garoupas, pescadas e até um grande pargo que, não apreciando eu o gosto de machos, me prometeu que passaria bem discreto entre batatinhas e cebola no assado.

Agora, já em casa, vou tendo que fazer visitas periódicas pela cozinha, abrir a porta do frigorifico e acalmar aquela peixeirada, ali alinhada , todas elas desejosas de vir para a mesa e serem comidas. Bem comidas, com requinte e com muito tempo. Bem temperadas, bem acompanhadas com batatas pequeninas, das que se cozinham com a casca e ficam bem com qualquer  coisinha.

Já lhes pedi que se acalmem  e já lhes prometi que todas elas serão comidas, até à exaustão dos apetites e forças mandibulares.

Mas talvez seja prudente corrigir o tiro, não abusar nem do uso nem da crença de que a carne é que é fraca e viciante.
Então, e o peixe? Pelo que se vê... se a carne é fraca e arrasta  em tentações,  o peixe é igual, embora mais farsola e inteligente. Agora, que as pescadinhas, as lulas, as douradas e muitas outras ( já nem falo das chaputas) são umas depravadas...lá isso são!
Terminei a minha visita de sábado a mais um mercado. Agora, vou ter que comê-las!
Bon apétit !

Carlos PM

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