segunda-feira, 4 de maio de 2020

Budapeste !



Neste ano, esta era já a minha terceira visita a Budapeste.
Por volta das sete horas da manhã  estava a levantar-me, a fazer a barba e a enfiar um calção de banho, pegar na touca e nos óculos para descer até ao piso menos um para fazer a minha natação.
Passei pelo duche, pela cabina da sauna e  pelo jacuzzi apenas para aquecer o corpo e entrar na piscina que, naquelas paragens frias, as  pessoas acham sempre que a água está tépida.



Nadei as minhas piscinas da praxe, voltei ao duche, sequei o corpo, enfiei o roupão e voltei a subir ao quarto.
Vesti-me convenientemente  e desci ao restaurante para tomar o pequeno almoço. Sempre o mesmo ritual. A minha mesa e sozinho, sempre assim andei e fiz toda a vida. As excepções foram muito raras.



Por volta das nove e meia estava já a sair a porta do Hotel Le Meridien de Budapeste, hoje já  com o nome mudado.
Cá fora, um enorme jardim em frente, tudo estava coberto de neve, tudo muito branco e convidada a pisar.
Assim fiz, tirei umas fotos e fui dali a pé até à beira do rio, depois de passar a praça onde ficam outros hotéis internacionais e muito frequentada. Tinha uma reunião num edifício mesmo ao lado do belíssimo Parlamento de Budapeste. 
Detive-me ali perto sobre a ponte dos leões de onde a vista da colina do lado oposto, do castelo, do rio e do próprio Parlamento Hungaro é magnifica.



E lá fui para a minha reunião. 

A hora apropriada, foram servidas as tradicionais sanduíches que faziam mesmo de almoço. De atum, de enchidos variados, de entrecôte, sempre com pimentos, pimentões, paprikas, rabanetes e legumes crus a acompanhar. 


Apetecia-me, claramente, outra coisa.

A discussão e a reunião que era sobre o Céu Único Europeu, sobre aviação, estava acabada e eu tinha sido Presidente do Parecer sobre essa matéria, em Bruxelas.

Voltei á beira rio e agora o sol era mais visível mas o dia não estava demasiado quente.
Cheguei  à Vorosmarty Tèr, a praça onde fica a célebre pastelaria Gerbeaud, que ali se mantém com um altíssimo nível de qualidade desde o dia 14 de outubro de 1858.


Apetecia-me,  mais na ideia que no estômago,  um bom bolo de maçã quente com as duas bolas de gelado de baunilha por cima  e com aquele jarro de chocolate  liquido também quentinho ao lado para ir despejando por cima à medida que ia comendo. O famoso apfelstrudel.


E um bom capuchinho, muito bem tirado, servido num copo alto e  grande e com  muito bom aspecto,  naquele ambiente de …difícil descrição. As empregadas, todas com os vestidos ou saias compridas cor de pérola e aventais enormes castanhos escuros a tapar-lhes o peito, o ventre e a caírem sobre os chinelos  também castanhos. Saiam-lhes de lado das toucas brancas  madeixas de cabelos dourados e nos rostos sorrisos encantadores, a condizerem com as guloseimas  que ali se podiam escolher e saborear. Para umas fotos comigo, aliviaram as indumentárias para melhor se ver o que se escondia por baixo das vestes de Fevereiro.



Estava, contudo, num dia de indecisões. 
Fiquei cá por fora e fui, antes disso, sentar-me numa mesa de uma esplanada ao lado, de um restaurante com mesas com toalhas ás riscas vermelhas e brancas que caiam até ao chão e, nos tampos, cruzadas, outras aos quadrados também vermelhos e brancos.

Pedi um goulashe, à húngara. Chegou e quase fumegava. O caldo era deliciosamente temperado, a carne que nadava no interior do pote que servia de taça e prato, uma delicia. A paprika fez-me recordar, nessa altura, os programas do Herman José que usava e abusava da  expressão e da especiaria para glosar uma “tia” com quem se metia nas artes da cozinha.


Acompanhei  a refeição que foi só um goulashe e bem confeccionado à húngara, com uma cerveja, recordo.

Fui até à beira do rio, uns cinquenta metros dali. Olhei a outra margem, os barcos que passavam carregados de turistas para darem a volta pouco depois de passarem o fabuloso edifício do Parlamento.

E dirigi-me à Gerbeau. Sentei-me, mirei e remirei as empregadas, porque valia a pena fazê-lo. Fiz uma visita à vitrine corrida  a todo o comprimento do balcão. Fui até à sala interior, magnifica no ambiente e aquela hora já encerrada para refeições. Voltei à minha mesa e fiz o pedido. Um apfelstrudel  daqueles mesmos, com gelado e um pote de chocolate quente para ir derramando por cima. E um capuccino muito bem tirado, em copo alto, if you please.


Passei mais de hora e meia a comer, ver e rever tudo à volta, a elegância com que as empregadas serviam todos os clientes, os pedidos ao balcão de bolos clássicos e só dali mesmo para levar para casa de quem muitas vezes, pela forma de   pedir o costumava  fazer.

Saí já com uma ideia na cabeça.  Amanhã, antes do pequeno almoço, não vou nadar no hotel. Vou sair a pé, ando um bom bocado no sentido do mercado de Budapeste e vou a uma daquelas piscinas tradicionais, aos banhos húngaros, antigos banhos públicos.  Os Széchenyi Baths ou talvez, melhor, o Balneário Gellert


Regressei ao hotel mas, à noite, como o hotel me conseguiu ainda a reserva, ainda arranjei forças e disposição para ir à opera de Budapeste, lugar que muito prazer me costumava dar muito prazer. Mesmo em frente, gostava de olhar o ambiente quer de dia quer com as luzes da noite a livraria onde foi filmada a cena do casamento do filme Budapeste, baseada no livro com o mesmo nome de Chico Buarque e que vira já em Lisboa numa passagem relâmpago pós dois  cinemas.





 O  Parlamento de Budapeste, ao fundo


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