Estou a ficar com mais idade, talvez mais maduro !
Quem de sentido de humor não seja muito abonado, terá como reacção imediata disparar-me, és é um "maduro" !
Bom, esses revelam que quanto ao humor, tão necessário a uma sã sobrevivência, não estão ainda no ponto requerido, vamos portanto pedir-lhes que se cozam mais um pouco.
Isto hoje está duro, a escrita, para que fique bem entendido.
Retrocedamos até aos anos sessenta. Se o fizerem, recordando a liturgia direi que em memória de mim o fareis e disso, penso que não tereis arrependimentos maiores.
Naquele tempo já era usual dizer-se em todos os sermões que "no inicio tempo existia o Verbo".
Mas, de facto, o verbo não existia, pois este verbo seria "flirtar" e só uns anos mais tarde, em Portugal, com a propagação da musica dos Beatles e das festas de garagem, o verbo se tornou usual e real.
Tinha e tenho um colega de liceu que costumava fazer um quarto de sentinela em frente ao Banco de Portugal, no Rossio, também chamado Praça da República, entre a hora do inicio da missa dominical nos Terceiros e a saída da liturgia só para ver as raparigas que iam e voltavam do Santo Sacrifício. Nome bíblico que o meu colega e amigo, pelo sinal, e não dá para continuar com o "pelo sinal da Santa Cruz..." tem. O meu amigo e colega agora algarvio.
Moisés, de sua graça.
Eu, matematicamente, todos os domingos ia com os meus pais à missa, penso que à do meio dia, nos Terceiros.
Havia uma cidadã, uma jovem cristiana, uma boa camarada, que também lá ia, com a mesma precisão com que eu o fazia.
Era dotada de um par de pernas que dava gosto ver, fazia arrepender todos os pequenos pecados ensaiados e levados à cena durante a semana. Ver aquelas pernas fazia-se com o propósito (que promessas não se conseguiam que dessem resultados claros), de alcançar a felicidade suprema.
Eu só começava a subir a enorme escadaria dos Terceiros depois de ver que a minha domingueira vizinha já ia alguns degraus acima. Subia eu compenetrado, arrependido perante o divino mas insubmisso e decidido perante a realidade terrena. Começava a dar os primeiros passos degrau a degrau, sempre com o pensamento, e mais ainda o olhar, posto lá nas alturas.
A suprema perfeição, a magnitude de um escultor que tal obra fez, eram a prova provada que com a Natureza não se brinca! É nossa amiga, surpreende-nos muitas vezes e por certo terá abençoado tal par de pernas.
Eram umas pernas com pernas. Há pernas que são só pernas, ponto final. Mas aquelas pernas tinham mais pernas que as outras !
Sim, porque pernas todas as pessoas têm. Aquelas, eram das que todos temos mas tinham ainda e também mais um pedaço de pernas.
Nunca as vi acima de pouco mais de metade daquela parte que vai do joelho até onde as pernas deixam de se chama pernas. Mas esse pedaço era de se lhe tirar o chapéu e prova disso estava em que todos os homens ao entrar nos Terceiros, descobriam a cabeça, tiravam os chapéus, os bonés ou os quicos, quando ela já tinha entrado.
Ficava quase sempre do lado esquerdo ao fundo da igreja, de lado. Eu escolhia uma esquina de um banco um pouco atrás e era como se nos cumprimentássemos quando chegávamos, embora formalmente não nos conhecêssemos.
Por isso, porque o verbo ainda não existia, não flirtávamos nessas presenças liturgicas dominicais. Mas teremos sido os precursores, embora sem o saber. O sumo, estava lá todo. Só não existia nessa altura o verbo.
Razão tem o Fernando Tordo quando o oiço cantar "Foi o dia mais lindo..." !
No meu entender, foram as pernas mais lindas... e não as vi todas...!
Hoje em dia há o hábito de comemorar Dias Mundias ou Europeus de "Tudo e Mais Alguma Coisa".
Se fosse nesses tempos haveria um Dia Mundial, Universal, daquele Pedaço de Pernas ! Ou ainda o poderá haver se elas continuarem a ser como eram.
Receio por isso. Se existirem, essas, sim, deverão estar já maduras demais.
E mais não digo pois o salário mínimo nacional não me permite alongar mais. Fiquem com isto, seus MADUROS!
E mais, isto, à borla: "o melhor da vida" , dizem os que pouco sabem e estão sempre prontos a disparar frases dogmáticas para dar a ideia parva que muito sabem, "vem com o cair da folha" !
Mas estão, por serem uns grandes maduros, redondamente enganados.
Quem me dera ter a idade e competências que nesses tempos tinha e estar aqui hoje!
Calos Pereira Martins
(Um Homem maduro na Cidade )
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