Sim, estou? Quem fala? Não se ouve nada, desculpe mas não oiço quase nada. Tem muito ruído.
Ah, sim, sei, sei ! Estás bem?
Mas eu não estou em Lisboa. Estou na Holanda, agora em Alkmaar.
Não, não dá mesmo para falar, estou no meio da rua, com muitas pessoas á volta, corridas com padiolas carregadas de queijos, berros a apregoar preços, e mal percebi quem eras!
Hoje há feira em Alkmaar. Feira é uma maneira de o dizer, é muito mais uma lota, não de peixe mas de queijo. Chegam cedo as famílias produtoras do queijo gouda, descarregam tudo o que trazem na praça central de Alkmaar. Cada queijo é enorme, alguns quase do tamanho de uma roda de um automóvel.
( O mercado de Alkmaar, eu de barba ao meio e ao fundo)
Tudo começa, as peripécias da negociação, com o bater do sino da praça central, bem cedo.
No meio, há tiras enormes de tulipas e outras de queijos, como se de canteiros se tratasse. Dois homens vestidos a rigor e com chapéus de palha laranja, amarelos ou verdes, presumo que indicarão a família de produtores, carregam de cada vez numa padiola suspensa nos ombros de cada um deles por fortes correias, ao jeito das cangas dos animais, oito queijos enormes. Correm em paço muito lesto para a balança. O queijo é pesado, vistoriado, quanto a qualidade, sabor, buracos ou cavidades que tem ou deveria ter, tudo o que o define. De seguida voltam com ele ao espaço de negociação, na lota. Há lances de preços de oferta, cada padiola de oito queijos pesa à volta de cem quilos.
( Eu no meio dos queijos com as fartas barbas que tinha na altura)
E isto vai-se repetindo por toda a manhã até que por volta do meio dia o sino da torre toca de novo e o mercado encerra.
Pelo meio, há ranchos de moçoilas rosadas, que respiram saude pelas faces coradas e transpiram pelos sovacos e braços carnudos que das gosto de olhar. As pernas são roliças nas barrigas e de cores também rosadas o que denota muita suave, robustez e vontade de viver.
( Eu e a Teresa)
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