sábado, 20 de junho de 2020

Quinta da Aguieira - Viseu



Hoje é o primeiro dia de verão e estou em Viseu.
Aproveito para saborear momentos passados, de mais de meio século, da minha juventude e meninice na nossa quinta.
Aqui, a capela de Santo António da Aguardente. O nome, ao que me dizem, veio-lhe dado pelo meu avô paterno, que comprou a quinta logo a seguir à guerra. Os homens que cá trabalhavam, juntavam-se a tomar a "bucha" da manhã que incluía aguardente, naquele tempo, ali ao lado da capela que tem a imagem de Santo António no interior. O meu avô decidiu então que seria adequado chamar-lhe Santo Antonio da Aguardente, em memória desse pessoal que cá trabalhava. No exterior da quinta, no alto da Aguieira, há mesmo um chafariz com a imagem do santo gravada e um painel de ajulejos com essa designação escrita.

Ao lado da capela há uma tília centenária, onde tantas vezes minha avó lia o seu jornal "O Primeiro de Janeiro", que já nesses anos de 50 e 60 assinava e diariamente era atirado para o chão pelo maquinista do comboio da Linha do Vouga ao cruzar a passagem de nível sem guarda da Aguieira, já muito perto da Estação dos Caminhos de Ferro de Viseu. Depois, alguém o ia apanhar e levar à minha avó e madrinha.

Eu e os meus companheiros de brincadeiras, por ali ficávamos  à sombra da tília por horas a fio a combinar jogos e aventuras de índios e cowboys.




A meio da ladeira ainda hoje, dia em que fotografei uma vez mais, se podem ver algumas galinhas a bicar no chão, outrora muitos outros animais por ali andavam, para alem dos bois,  galinheiros com muitas aves, coelheiras, patos, o ou os porcos, tudo o que faz parte da autentica vida no campo, sendo que a Quinta da Aguieira se localizava já dentro do perímetro da cidade de Viseu, freguesia de São José, por trás da Estação da CP,  muito perto  da Feira de São Mateus e da Avenida Antonio José de Almeida, hoje, mais perto ainda da Avenida da Europa.
Logo a seguir à capela, à titia e iniciada por um eucalipto gigante, fica a chamada ladeira.
É íngreme, como o nome indica e se pode ver.  Ao fundo, do lado direito, fica a "casa dos bois" que foram sempre uma chamada junta, dois, portanto, sendo que sempre um se chamou o "castanho" e outro o "boieiro".

E, mesmo a meio, uma frondosa amoreira onde até aos tempos de escola primária, eu recolhia bichos da seda, os guardava em caixas de sapatos, ia alimentando com folhas frescas colhidas esta amoreira e algum temo depois criariam casulos de onde mais tarde sairiam lindas borboletas e se podiam ver os fios autênticos de seda.

Muito perto da titia centenária está este não menos idoso eucalipto gigante. Dele foram colhidas tantas vezes folhas milagrosas que ajudaram a aliviar constipações, narizes fungosos e a desinfectar espaços que disso necessitavam ou a remover cheiros desagradáveis. Também algumas moléstias de coelhos, frangos e galinhas, eram afugentadas com as folhas do eucalipto queimadas.

Hoje, estas madrugadoras galinhas nem sequer fugiram de mim, pareciam ter-me reconhecido e estavam tranquilas quanto ao que poderiam ser os meus apetites por canja ou arroz de cabidela!

É muito bom, sem qualquer duvida ou exagero, estar de novo, com tempo e paz de espírito na Quinta da Aguieira.
Falta-me apenas uma coisa que me deixa com profundas saudades e um certo nó na garganta, a presença de meus pais, que já partiram e só com eles isto era realmente o que era.

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