Subitamente, tive quase que parar, não conseguia progredir na subida e diminuir o ritmo, nestas circunstancias e sei lá se noutras, já me diminui as resistências.
À minha frente, sem perceber de onde veio, era como uma barreira, um qualquer Muro de Berlim, já caído há décadas mas que para ilustrar algumas situações, como esta, continua a dar jeito.
Levantado o olhar do passeio para um pouco mais acima, só via, duas barrigas de pernas roliças, claras mas que pressupunham que a continuação tapada por um vestido azul quase transparente, sem o ser, fosse de um quase dourado, talvez com uma quase penugem alourada, que cabelos, pelos ou fios desses, não teria por certo, que só se me deparava e deixava ver até onde as costas acabam, a cintura se torna mais exposta e realçada, e o cimo das pernas ou fundo das costas, visto de trás, toma formas tão redondamente bem esculpidas e salientes quanto baste, que nasce, cresce e nos desafia a ousadia uma enorme vontade de mexer, tocar, tactear, tomar contacto físico.
Ora, como sei bem e para que não me esqueça, para bem dos outros e de mim próprio, a toda a hora me recordam que isso não se pode fazer nestes tempos provavelmente ainda mais duradouros do que se pensa, … nem em pensamento se pode fazer. Quanto mais em palavras e obras!
Mas as impossibilidades não são de agora, desde sempre houve coisas que não se devem, não se podem e não convém mesmo fazer. Esta, seria uma delas, se o tivesse feito, se a coragem me tivesse saído do exacto sitio, no cérebro, que a aloja para a ponta dos dedos, para as mãos.
Tomei consciência e deixei que a realidade se deslocasse do coração onde já a sentia, para o cérebro. Apaziguei o meu espírito se é que o tenho ou tudo o que se pensa ser espiritual não fica a toda a hora guardado e armazenado em backup numa espécie de nuvem da google do Universo !
Saí do passeio para a estrada e passei à frente mesmo que a minha vontade tivesse sido de continuar ao estilo de quem vai em penitência, em procissão, muito respeitosamente devo dizer, que confessar, nem ás paredes o faço, era a de continuar naquele remanso, devagar e sem levantar o olhar mais alto que a cintura daquela magnifica visão promitentemente de tez alourada, como os trigos nas searas maduras já muito visitados pelo sol ardente.
E, tal como a existência dos deuses, as aparições e visões maravilhosas, há coisas que nos ultrapassam por completo o conhecimento, a razão, o saber necessário para poder ou não acreditar. Ora aqui está uma delas. Continuei a matutar com um sorriso nos olhos sobre o porquê de não poder fazer o que os sentidos me sugeriam e, penso que alguns, o tacto por exemplo, até me imploravam.
Não consegui passar para a folha seguinte do manual de instruções de vida, para o como viver, o tal saber viver que é o que mais custa.
Que não, que … talvez, noutras circunstancias, se estivesse a sós com a pessoa, talvez que as vontades fossem até reciprocas e aquilo que configuraria um acto de assédio, de barbaridade da minha parte se o tivesse feito em pleno Chiado, na rua Nova do Almada, a sós, se transformasse no mais sublime acto de carinho, desejado, agradecido!
Vá lá a gente entender a vida e os seus manuais de instruções que logo à nascença nos meteram pelo sitio de onde retiraram, talvez, o cordão umbilical. Antes por aí que por escolhas piores.
Estou tranquilo, afinal, vale-me mesmo é o não ter hoje ainda saído para a Baixa, não ter subido a Rua Nova do Almada senão em pensamento e me ter confinado a uma volta a pé até á zona do Fonte Nova, do Califa e á visão dos jacarandás na Estrada de Benfica.
A Vida é Bela, só é preciso saber ter cuidado com ela, ouvi isto muito cedo e guardei na minha nuvem. Quando preciso, vou lá buscar e usar.
Bom feriado.
Carlos Pereira Martins.
(Bébé Nestlé do ano de 1951, quem diria...!)
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