segunda-feira, 22 de junho de 2020

Amou daquela vez como se fosse a última!


Amou daquela vez como se fosse a última!

Sim, ela sempre se convencia disso. 
E sempre se ria de todos porque todos pensavam que seria verdade dada a sua idade e condição física.
Mas ela amava sempre e não só daquela vez como se a última fosse. E  ela sabia perfeitamente que para amar não precisava nem nunca precisaria do fisico para  nada.
Nada, nada mesmo. 
E nada é mesmo nada.


Por mais que ela o amasse todos os dias como se o último fosse, ele não se convencia.  Nem disso fazia ideia porque para ele amar não era nem nunca poderia ser alguma coisa que não tivesse de fisico uma grande parte.
Para ele, o amor era melhor se vinha de mulher  ferida no orgulho, na alma ou até no corpo, ferida de marido ou amante que abandona, que bate na mulher.
De mulher traída, então, o amor era como agora se diz, com sabor gourmet.
Também de mulher que caiu  viuva  muito nova, se não fosse gourmet, seria pelo menos como comida no Gambrinus  ou no  Tavares Rico.

Ela, do amor físico, há muito que julgara já se ter despedido.
E saboreava o amor sentido, amor que já não era amor feito, apenas  amor que vinha do coração ao cérebro, ou vice-versa, não importa … sempre como se essa vez fosse a sua última, a derradeira vez.
Quando menos esperava, envergonhada e de novo com as faces ruborizadas como se voltasse a ser menina, via-se de novo a amar, de amor feito, suado, desnudado e preenchido.

Ele, porfiava na descoberta do amor que vinha feito raiva. Não parava de procurar amor  forte e feio, ou puro e duro,  de mulher traída, da mulher rejeitada, de qualquer uma  que se julgasse feia e menos  apetecida e que da vida não se queria despedir sem o provar. Por isso mesmo, sempre que o faziam, era mesmo como se fosse a última.

E veio também o dia em que ele próprio se teve que convencer que amaria daquela vez não como se fosse a última mas com a quase certeza que seria uma das últimas. 
E assim o fizeram. 
Ainda.

Daí para cá, passaram a falar tudo e tanto que mais pareceria que falavam daquela vez como se fosse a última.

E descobriram então que, naquele novo tempo, passaram a amar tanto que mais parecia que sempre se amavam, fosse qual fosse a vez, como se fosse a última.
Até que, por fim e muito naturalmente, a vez última, derradeira e tranquila como a de todas as coisas,  chegou também áquele amor.

E, ao contrário do que quem de tudo tem certezas rápidas e sempre seguras, não foram continuar aquele amor, como se fosse o último, para o reino da eternidade.
Ali acabou, algo permaneceu na memória do que  ainda ficou, até também ao derradeiro dos seus dias. Sempre como se fosse o último.
E isso o que vale?
Vale sangue muito quente que encharca o coração, que por sua vez dá tranquilidade e fluidez ao circuito continuo que leva o bem estar a todo o corpo, ao cérebro, ao peito, ás costas, até a tudo o que sempre serviu para amar de todas as vezes como se fosse a última.
E, isso, é muito bom.
Que o prove quem nunca o sentiu assim.

Carlos Pereira Martins
(cidadão aprendiz em tudo, até nas artes de aquecer o coração)


1 comentário:

  1. Parabéns. Usas casa vez melhor essa caneta de arco e flecha que em vez de crivar o papel com fórmulas, afaga-o com perfume, côr e movimento

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