domingo, 11 de abril de 2021

Lanto muito mas mais do que isto não sei o que dizer! Caso Sócrates.

 


Falar ou tentar explicar os contornos do chamado "Caso Socrates" a alguém é extremamente difícil, para mim que, entendo que felizmente, não reajo por emoções pré construídas, não sou leviano a julgar nem tenho competências para julgar no sentido jurídico do termo, nem moralmente me sinto à vontade para o fazer não dispondo dos meios já não digo de prova mas de conhecimento mínimo de factos que me levem a tar uma opinião clara.

No entanto, convém ter presente que, no tempo em que eu fui criado, crescendo, um juiz, na capital do Império, nas grandes cidades ou nas do interior, nas comarcas rurais e mais pacatas, era por definição e prática uma pessoa recatada, quase isolada da vida social, não se misturava em conversas de café, muito menos vinha para a praça publica falar de tudo e mais alguma coisa, até dos casos do tribunal.

E isso garantia-lhe não o conhecimento geral e  mediatismo pelas populações locais mas um conhecimento e reconhecimento pelo carácter, pela seriedade, importância do cargo de grande seriedade, rigor e descrição que exercia. Era um notável da região sem ter que fazer por o ser, sem ter que se mostrar, sem se vergar aos microfones, a fazer passar confidencias e quebrar o segredos de justiça para jornalistas a troco não se sabe hoje em dia de quê mas poder-se-á calcular que, pelo menos, de uma grande notoriedade dada em contrapartida pelo mediatismo e pelos favores feitos a áreas da política, lhe são garantidos.

E isto que hoje, em Portugal, mas cuidado com a redução ao nosso país,  pois passa-se em todas as chamadas sociedades modernas, modeladas pela mediatização e pelas correntes e redes sociais, pelos jornais não de rigor mas pelos tablóides de faca e alguidar e de sensacionalismo. Infelizmente, é como a pandemia, é geral. Exactamente, será uma outra pandemia, a da informação.

Sobre o caso do antigo Primeiro Ministro, é-me muito difícil pronunciar em publico, mesmo para os amigos, faço-o para mim próprio, interrogo-me e vou concluído à medida do que vou pensando, do deslizar  dos pensamentos que a inteligência ainda vão tornando possíveis mas, confesso, que numa grande parte das vezes, volto com tudo atrás, já depois de ter um raciocínio lógico construído e adquirido pois um pormenor relevante, racional, inteligente e justificado deita toda a construção anterior por água abaixo.

Recebi numa Plenária em Bruxelas o então Primeiro Ministro José Socrates, estive com ele e com Lula da Silva aquando da visita de Lula a Portugal,  estive nos jantares de encerramento de candidaturas, estive em inúmeras ocasiões publicas e ou oficiais com ele. 

Tive um enorme contentamento e mesmo orgulho quando em plena Crise das Dividas Soberanas, em 2008 a 2013, certo dia, em Bruxelas, ao chegar às Instituições europeias, no Edifício Jacques Delors,  todos os meus colegas Conselheiros ou também chamados Membros, dos outros 28 Estados Membros da UE me felicitaram pelo enorme feito conseguido nessa noite por José Sócrates de fazer aprovar pelo Conselho Europeu o "Pack IV", com enorme peso de Angela Merkel  que vim a conhecer pessoalmente a partir desses momentos. Orgulho para Portugal, enorme vitória na UE para Portugal, excelente trabalho de José Sócrates que, assim, evitava a entrada no país do FMI e da chamada TROICA !

Foi, no entanto, sol de pouca dura pois, cá, no nosso Parlamento, Passos Coelho e a extrema esquerda em consonância, rejeitaram o Pack IV e levaram à única saída possível, a demissão do governo Sócrates e a vinda da Troica. Um absurdo só entendível à luz da ganância de poder de alguns, muitos, políticos e partidos.

Devo dizer que em Bruxelas, não tive resposta para, a seguir, aos que me tinham tanto felicitado, explicar a "nega" em Portugal !

Não consigo pronunciar-me sobre uma quantidade de interrogações que pairam sobre as acusações a José Sócrates, não entendo certo tipo de vida que fez logo a seguir, recebimentos em numerário, se os houve como parece estarem documentados, tudo de muito mau e reprovável que fez e que vai cair no baú do esquecimento ou na lavandaria das prescrições. Legalmente é inocente ou melhor, não culpado por isso, porque PRESCREVEU.  Mas as prescrições fazem parte, como tanta coisa mais, do chamado "sistema" e contribuem para que, infelizmente, a grande maioria das pessoas comuns, dos meus compatriotas, não se revejam em nenhum dos governantes desde há muitos anos.

Excepção para um Homem  que tenho por amigo e respeito muito, Ramalho Eanes.  Para mim, mas sublinho  o para mim,  também Mario Soares e Jorge Sampaio que conheci e conheço bem, meus amigos e sem qualquer dúvida honestos e inigualáveis.   

Houve perseguição política e do sistema judicial a Sócrates, houve intenção de o arrumar política e pessoalmente,  independentemente das culpas que tenha, do que tenha ou não deito. Mas isso teria que ser demonstrado em tribunal e daí tiradas as conclusões e aplicadas as condenações, se provados os factos.

Fez-se, estes juizes, policias e procuradores fizeram o contrário. Concluíram no seu intimo que ele era culpado, antes de julgarem, e prenderam-no com aparato mediático à chegada ao aeroporto, num desembarque. Só pode, nesse caso como em muitos outros que se lhe seguiram, ter havido conivência entre os julgadores e investigadores, uma enorme promiscuidade, com a imprensa, em particular duas televisões e dois jornais. Os policias ter-se-ão amaneirado ou vendido à imprensa e a certos quadrantes políticos, não há a menor dúvida.


Sócrates tinha um mérito que continua a ter, pelo que podemos ver. Não desiste, é persistente, tanto o fez assim com a política europeia como com a sua "defesa" agora nos tribunais. 

Antonio costa também o é, não desiste, não se verga aos chamados poderes maiores europeus ou mundial, vai pela positiva,  constrói, junta pedra sobre pedra e ergue edifícios impensáveis mas de relevo para os interesses nacionais e europeus. Mas é mais unificador que Sócrates, faz tudo sem quebrar loiças, é positivo, integra e também por isso, sendo Portugal um dos países pequenos, A Costa é hoje, penso, o líder europeu com mais prestigio, mais promissor e respeitado pelos mais poderosos lideres. Ouvido e seguido, talvez a par com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula.

Lamento imenso mais não poder dizer ou ajudar a entender este caso. Para ser justo, sério e honesto, é tudo  o que posso dizer.

Há, de facto, coisas concretas que não podem passar em vão, ser dissolvidas na lavandaria das prescrições: a prisão por nove meses sem culpa formada, provada, de Sócrates é legitima, tem alguma razão legal de ter acontecido? Se foi abuso de poder ou perseguição política, independentemente das condenações ou absolvições que venha a ter em tribunal, os responsáveis deverão ser  julgados e punidos.

E o papel factual, objectivo de alguma imprensa e jornalistas concertos, as fugas ao segredo de justiça, os abusos nas conclusões, as tentativas conseguidas de culpabilização e condenação feitas com o ímpeto jornalístico igual ao que um soldado faz em campo de batalha aberto, pode ficar impune?

Que imprensa temos, que imprensa queremos, de que imprensa precisamos para podermos continuar a orgulharmos-nos do país que nos deram , que somos e de temos tanto orgulho em pertencer?

Deixo as minhas interrogações, para quem mais do que eu saiba ou seja capaz de reflectir.

Abraços.

Carlos Pereira Martins

(cidadão português à beira de um ataque de incredibilidade, de fé nas Instituições !)

Mas que viva a República e os valores e a ética republicana, que se sobreporão  às lamas destes verdadeiros atoleiros !   



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