Vão realizar-se próximamente eleições para a Ordem Profissional em que estou inscrito, a Ordem dos Economistas.
Aproveitando os tempos e o ensejo, deixo um desejo e uma sugestão de reparação de dúvidas e dissabores que muitas vezes nos são dirigidas, aos economistas, não por culpa dos menos informados mas muito por nossa culpa, os Colegas, a Ordem, as várias Direcções a muitas das quais desde a anterior APEC pertenci e mesmo posteriores que integrei, a primeira como Ordem e do Bastonário Antonio Simões Lopes, a primeira de Murteira Nabo, e por aí fora.
O chamado "povo anónimo e sereno" pouco sabe da missão, da formação e do que fazem os economistas.
O que dizem, muitas vezes espicaçados por profissionais de outros "metiers", advogados, engenheiros e quejandos, é que um economista passa metade do tempo a fazer previsões e a outra metade a tentar justificar os erros nessas suas previsões. Pode ter piada, se lhe extrairmos com cuidado o veneno que traz entranhado. Sei talvez como poucos que procedimentos idênticos se passam com outras profissões. Presidi durante quase uma década à Comissão Executiva do Conselho Nacional das Ordens, o chamado Conselho de Bastonários, o que me permite saber com muita precisão o que vai pelas outras Profissões. Mas para o caso, o que vai em casa alheia não deve ser trazido para a arrumação da nossa própria casa.
Vejamos, então .
Antes de mais, prever não é adivinhar, é construir modelos com comportamentos das múltiplas variáveis que permitam ter uma antevisão tão mais próxima do que virá a acontecer quanto mais rigorosas forem as bases de dados utilizadas, as técnicas matemáticas, sobretudo de probabilidades e estatística utilizadas, o conhecimento profundo da economia real e do meio envolvente, na ordem interna e internacional.
Gostava imenso que o futuro Bastonário viesse a público em tempo que entenda oportuno aclarar e divulgar esta ideia. Vivemos tanto tempo com este constrangimento que não se trata de "morte de homem". Direi mesmo que será coisa de "mais metro menos quilómetro" , no tempo !
Mas que dissesse bem alto e ensinar a muitos entendidos que comentam banalidades tanto quanto comem e bebem, que:
"a Economia é uma ciência social", não é uma ciência exacta, como a matemática ou a física, por exemplo.
Sendo assim, quando se decide mexer numa variável de um modelo económico, isso tem implicações nas outras variáveis do modelo.
Por exemplo, mexer nos salários para conter os défices, ou actuar e reduzir o consumo, leva a alterações no emprego, na produção das empresas, nos impostos recolhidos pelo Estado, num numero sem conta de outras variáveis.
E não é que as previsões sejam por sistema mal elaboradas, é que virão a ter implicações nas políticas adoptadas e as expectativas que os indivíduos, as empresas e as famílias teriam, poderão , essas sim, vir substancialmente alteradas. Prever, repito, não é adivinhar !
Os economistas, ou melhor, um economista consciente e bem formado como foram os dos meus tempos e na minha Escola, o ISCEF, é uma pessoa séria, profissionalmente bem formado. Como tal, não se coloca a adivinhar, não se cansa com adivinhações.
Um economista, tal como eu o concebo, trabalha com modelos. Com muitas variáveis que vai alterando e aperfeiçoando com o passar dos anos e a sua experiência profissional e o que vai lendo, aprendendo e vendo no contacto e partilha com economistas mais experientes.
Mas sempre, desde os bancos da universidade, cada um com o seu modelo, mais ou menos artesanal, mais corriqueiro ou mais elaborado e cientificamente desenvolvido que o do seu colega ou conhecido.
Assim, um comentador ou um charlatão de programas irresponsáveis nas televisões, pode muito bem dizer o que queira mesmo sem base científica. Mas isso não é um economista. E se por acaso o for de formação académica, esse tipo de intervenção nada tem a ver com o Economista Profissional e sentido de responsabilidade a que deveria estar fielmente comprometido.
Um economista tem a obrigação de só pronunciar previsões seja do aquecimento da economia, da inflação, do défice ou que quer que seja, depois de ter passado algumas horas a simular nos eus "MODELOS" pessoais o que, "ceteris paribus" ( tudo se mantém constante excepto a variável que trabalhamos), o futuro nos reserva com determinado comportamento esperado numa certa variável, sejam as taxas de juro do Banco Central europeu, seja o consumo, as importações ou as exportações.
É por isso que aceito e posso até sorrir por dentro com determinados comentários de profissionais do mal dizer, do não saber e do bem ganhar a comentar com balelas mas não desculpo um Colega Economista, com cédula profissional , que vá dar palpites sem que tenha antes trabalhado um SEU MODELO, por mais rudimentar que possa ser ou não tenha recorrido a um modelo e opinião de um colega mais experiente.
E é claro que os modelos de cada um não se colocam a público, não se emprestam ou não se dão a comentar levianamente. São e devem ser pessoais. Recordo a propósito as promessas que os representantes do Governo ou dos Governos, que participavam nas Reuniões do Conselho Económico e Social iam fazendo aos conselheiros, repetidamente quando se discutiam os Pareceres sobre o Orçamento de Estado. Que certo dia iríamos todos por eles convidados lá ao Ministério para que nos fosse explicado o modelo utilizado para a construção do cenário macro-económico de base.
Claro que nem nos mandatos do já falecido Bruto da Costa, Presidente e meu amigo pessoal, nem nos de Silva Pineda, igualmente Presidente e meu amigo, isso se concretizou. Nem faria sentido que qualquer Governo o fizesse pois seria colocar-se a nu quanto a opções polícias da área do social e da saúde, muito sensíveis ás populações e à luta política.
Não pode continuar o silencio cúmplice e ensurdecedor quanto á génese da ciência económica.
É uma Ciência Social. Não é uma ciência do grupo das ciências exactas. Já Adérito Sedas Nunes começava por explicar aos caloiros logo nas suas primeiras aulas.
E, hoje, muito mais e melhor que nos meus tempos de universidade e de jovem economista, dispomos de meios tecnológicos, de potentes computadores, de saber adquirido, de novas técnicas das ciências exactas, a estatística e a matemática, o cálculo de probabilidades, que nos permitem num fechar de olhos obter resultados muito mais fidedignos e com elevada aderência na aproximação das previsões ao que virá a ser o real, aquilo que será determinante nas variáveis económicas para o bem estar das populações e o crescimento e desenvolvimento desejado de cada uma e de todas as economias.
Sempre com as incertezas, os riscos calculados de os modelos serem bases teóricas e, felizmente, as economias e o mundo em que vivemos ser real e objectivo.
Carlos Pereira Martins
Economista - ISCEF
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