quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A FACE E O REVERSO, OU É TUDO IMAGEM ÚNICA ?


Conteúdo partilhado com: Públi
Tenho um enorme privilégio de ter vistas amplas, espraiadas e sem obstáculos pela frente das janelas dos dois lados da minha casa.
De um lado, sobre uma das maiores escolas de Lisboa, a Delfim Santos, o estádio da Luz e o Colombo.
Do lado oposto, sobre todo o enorme complexo dos Maristas de Lisboa e a Serra de Monsanto.
Vou muitas vezes verificar que o mundo lá fora ainda existe e continua a rolar com normalidade ás janelas do lado da escola Delfim Santos. Toda aquela juventude, correrias, tontarias, me transmitem uma agradável sensação de também eu poder ainda ser um deles, ter ainda a alegria e o fogo no rabo, como se dizia quando eu tinha a idade deles, aquela genica toda !
E fico confuso pois vejo logo à entrada dos portões, do lado de fora, muitos coletes amarelos, de funcionários, da policia municipal que dá muito apoio, talvez até de pais, que impedem que algum jovem utente entre sem máscara, sem observar as devidas e exigidas precauções. A escola ainda não abriu mas o movimento de quem terá por lá coisas a tratar já se nota muito.
Entretanto, chegam, como canta o meu amigo Carlos do Carmo, alguns em bandos, muitos putos a transbordar de vida e estando-se nas tintas para os vírus e covids.
Será discriminação de género mas é o que os meus olhos têm visto. Sobretudo elas, miúdas de 10, 12 a 14 anos, chegam aos pares ou em quartetos e lançam-se nos braços dos que já por ali estão, no passeio, do lado de fora da escola, nas esplanadas, na casa que vende gomas, na creperia !
Em abraços apertados e até muito demorados. Sempre com beijinhos à mistura a eles, aos miúdos, e a elas. Quase todas e todos sem mascaras.
Claro que os afectos e amizades são um valor fundamental. Mas nesta altura o sentido de responsabilidade, clareza de espírito e respeito por todos e por aqueles que nos dizem mais, se sobrepõe.
Fico a pensar na razão de ser de todos aqueles coletes amarelos. Não é que não lhes dê valor, é uma questão de posicionamento. Deveriam estar muito depois. Antes deles deveria estar a Educação, a básica, as bases, a educação para a cidadania, a lá de casa que tanta falta faz...!
E, eis senão, quando regresso a uma sala e tento por-me em dia com as noticias, passo por vários canais e o tema é mesmo, a exigência de manter os alunos a metros de distancia nas salas de aulas, nos recreios, entre eles em todo o sitio. E que com os pequeninos vai ser muito difícil...
Fico a pensar na razão de ser ou se os jornalistas e comentadores que continuam há horas a insistir nas medidas para isolar esta população jovem nas escolas, a "dar na cabeça" de professores, autoridades de saúde e governantes por não serem mais eficazes, terão alguma vez tido a visão do mundo real que eu posso ver das minhas janelas. Do tal mundo que vou verificando que continua a rolar, como o Planeta.
Sei que o tema é recorrente, muitos estão saturados dele, já não querem sequer ler nem ouvir.
Mas é o que vejo do mundo real, das minhas janelas, cheio de vírus, micróbios, juventude, velhice e vontade de viver.
Carlos Pereira Martins

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