É recorrente a minha afirmação e insistência no facto de a economia ser uma ciência social e não uma ciência exacta. Ou seja, não há resultados exactos e definitivos quando alteramos os valores ou as políticas que os determinam, actuando sobre uma variável, o investimento, o rendimento, os salários, o consumo ou o emprego.
Actuando sobre uma variável, tudo o resto pode com enorme probabilidade vir muito alterado também.
Pois bem, mas há sempre que ter presente que os economistas trabalham com muitas técnicas das ciências exactas, designadamente da matemática, estatística e seus recursos e modelos de grande complexidade, entre outros.
Nas escolas e faculdades de economia aprendemos sobretudo a construir "modelos" económicos, modelos econométricos, a trabalhar com eles, a evoluir de acordo com a experiência dos anos, dos conhecimentos científicos e a experiência profissional de cada um.
Claro que me refiro à macroeconomia, ás análises da conjuntura que é a situação da economia no curto prazo e também ás análises e previsões dos cenários macroeconômicos de médio e longo prazo.
Uma chamada para a memória que guardo de brilhantes economistas nacionais, como Pereira de Moura, Silva Lopes, Manuela Silva ou Antonio Simões Lopes, Bastonário que acompanhei em várias Direcções da nossa Ordem.
Todos eles, depois de uma reunião, debate ou longas reflexões, costumavam dizer: "ó diabo, vou introduzir isto lá em casa nos meus modelos" !
É a diferença entre um Economista e um comentador ou conversador de roda de amigos, de mesa de café ou de painel de televisão.
Claro que qualquer destes, nestas circunstancias que referi, pode ser licenciado em economia, ter cursos e mestrados, mas uma coisa é opinar como Economista, profissional e sério, outra é ao nível do cidadão comum ainda que com maiores bases teóricas. Mas, sem falar indo primeiro ver o que lhe diz um modelo económico, cientifico e com bases mais ou menos solidas, não será falar ou prever como Economista.
Depois há a divulgação ou confidencialidade e reservas nos modelos pessoais construídos por cada um nos bancos da faculdade e aperfeiçoados e desenvolvidos ao longo da sua vida pessoal, académica e profissional.
Refiro-me sobretudo aos Economistas macro, não aos financeiros e muito menos aos chamados gestores de empresas. Aí, claro que os modelos e estatísticas, métodos de previsão, são muito úteis mas não são esses os modelos económicos a que aqui me refiro.
Nos mandatos que fiz como Membro ou Conselheiro do CES, Conselho Económico e Social, recordo várias promessas da mais tarde formada UTAO e dos Ministérios da Economia ou do Planeamento, a pedido dos parceiros sociais, promoverem visitas aos seus serviços para mostrarem e explicarem os fundamentos com que eram elaborados os cenários macroeconómicos que serviam de base aos Orçamentos de Estado anuais e que requeriam o Parecer do CES.
Claro que nunca foi feito. Aliás, diz-se que o segredo é a alma do negócio e um modelo utilizado tem que reflectir sempre as opções das várias políticas de cada governo. NINGUÉM QUERERIA DESTAPAR POR COMPLETO A MANTA DAS OPÇÕES POLÍTICAS QUE TOMAVA. Daí que todos esses modelos viessem a ser ou fossem contestáveis, criticáveis, objecto de "faladuras" por parceiros sociais com interesses muito diversos. E, daí, só viria descrédito e mais confusão.
Em resumo, não dou atenção nem credibilidade aos discursos, opiniões , anuncios positivos ou de desgraça de colegas economistas, muitos creio que serão apenas "pseudo", quando vejo que aquilo não foi bebido de forma séria dos seus modelos económicos de trabalho e profissão. Que sejam apenas comentários como um médico dentista ou um biólogo poderia fazer como cidadão de iguais e plenos direitos.
Mesmo os que "tratam a coisa a sério", cada um tem o seu valor e credibilidade conforme o saber e experiência reflectidos nos modelos que usam.
Um economista sério, profissional, credível, vai simular antes de falar publicamente, no "seu modelo", por modesto e rudimentar que seja, o resultado que lhe pedem para comentar mais tarde.
Outra coisa, bem verdadeira, é que prever, claro, não é adivinhar. A qualidade das previsões mostra-se na amplitude dos desvios mais tarde verificados. É sempre de desconfiar das previsões que não apresentam desvios no final. Poderá significar que algo estava inquinado, talvez os resultados reais, finais, estejam fabricados, tornados cor de rosa, com o se usa dizer.
Muitas pessoas confundem ou ignoram o que é um economista. Recordo um colaborador, meu subordinado na altura, que me acompanhava muito em viagens junto das Comunidades emigradas e que, nesses anos em que muito me preocupavam os critérios de reconhecimento dos cursos e a atribuição das cédulas profissionais para o exercício da profissão por parte da Ordem dos Economistas cuja Direcção integrava, quando a conversa se proporcionava me dar conta da sua perplexidade e duvidas. Sintetizava assim,: "Ó senhor doutor, assim não me diga que o engenheiro Belmiro de Azevedo por ser engenheiro, não é dos melhores economistas portugueses...". E lá lhe tinha que recomeçar a conversa do que é um bom gestor, um excelente empresário e um profissional conhecedor e formado na ciência económica. Coisas da vida. São tão comuns !
Carlos Pereira Martins
(Economista)
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