domingo, 12 de julho de 2020

Vive La Campagne, vive la Banlieue !





Na noite passada tivemos uma trovoada e muita chuva em Viseu. E foi excelente pois deu-me a ocasião para tirar  algumas fotografias, aos raios que iluminaram os céus,  sem flash, tudo simples e muito natural.

Hoje, o calor voltou e acabamos de almoçar ao ar livre, mesa posta na carreira do jardim, peixinho grelhado na hora e sem fotografias do "evento" pois privacidade impõe-se!

A meio do almoço vi atravessar  por perto, primeiro lentamente e depois de uma paragem, cabeça empinada na minha direcção e a seguir disparada como uma flecha, uma lagartixa.

E vieram-me à memória, como não podia deixar de ser, outras lagartixas dos tempos em que eu por aqui andava de calções e joelhos esfolados, recordei os meus pais, os meus companheiros de brincadeiras e de muitas patifarias que alegremente íamos fazendo.

Era frequente alguém aproveitar a presença distraída de uma lagartixa e, com uma pedra, cortar-lhe um pedaço do rabo. E, para quem nunca o tenha feito ou visto fazer, o pedaço do rabo cortado continua com vida própria durante muitas horas, mesmo tendo o resto do corpo do réptil ido embora e continuando a sua vida penso que quase alegremente. Depois, ouvi muitas vezes dizer, que se refaz, os tecidos recuperam partes perdidas. Não posso afiançar.

Nessa altura, dizíamos o "rabo" da lagartixa, do coelho, do boi ou do cavalo.
Ninguém utilizava uma expressão mais correcta, a "cauda", pois não era usual, não pareceria natural.

Só algum colega de escola ou do liceu que tivesse vindo  "de fora", de Coimbra ou de Lisboa, que era quase como se tivesse vindo do estrangeiro, a diferença não seria muita.

E, como colegas desses, importados, só me recordo de termos tido um, vindo da capital e do Liceu Camões, o que lhe ficou colado à pele e todos o conheciam pelo nome do Poeta, na verdade, o Camões nunca se deu ao trabalho de nos ensinar que os bichos tinham caudas em vez de rabos.
Aliás, o "Camões",   preocupava-se, isso sim, muito mais em nos demonstrar e provar as suas ousadias, sobretudo durante as aulas de duas professoras novinhas que na altura tínhamos, quinto, sexto e sétimo ano da altura. As desvantagens de um jovem ter nomes  começados por C e A, como eu, Carlos Alberto, eram as de ficar sempre ou ainda na primeira fila de carteiras nas salas de aulas, ou logo na segunda. Dependia da quantidade de Antónios, Abeis e Anicetos que houvesse na turma.
A minha carteira ficava à esquerda da do  "Camões" e com tal, teria sempre o incomodo de ser inquirido como testemunha caso alguma das professoras algum dia não tivesse feito o que sempre fez,  fazer de contas que nada viam. Se tivesse sido inquirido, como nunca fui bufo, juro que também nunca nada teria visto  !
O "Camões" fazia coisas loucas e destemidas nunca antes imagináveis  por putos provincianos como todos nós. Com a agravante de ele ser já muito mais velho que os outros colegas.  Dizia-se que por lá por Lisboa e pelo liceu que lhe deu o nome, se demoravam anos para fazer cada um deles!
Dizia também a rapaziada, não sei com que fundamento ou a quem alguém teria ouvido dizer pois eram temas que nunca se comentavam a não ser entre dentes, as duas professoras novinhas eram da Opus Dei, o que para mim apenas ia ao ponto de saber que não se podiam casar.
Por sinal, dava-me muito bem com as duas. Até cheguei a conduzir o Fiat 850 Coupé de uma delas, numa situação de maior emergência.  Eu tinha carta e era já emancipado, na altura.

Hoje, agora, é  domingo à tarde, tive um excelente almoço, no campo, na casa que foi de meus pais e agora é minha, vejo entretanto a Formula 1 de que gosto imenso.  Aconteceu só que durante o almoço, vi passar uma lagartixa a correr muito.
E deu nisto !

Quererá dizer que os meus neurónios continuam felizes e activos?
Oxalá.
Bom domingo, vou fixar o olhar no resto da corrida.

Carlos Pereira Martins




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