quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Falando, como toda a gente passou a falar, do clima.



(fotos com pedido de não copiar,  todas tiradas por mim)

Nos anos anteriores ao despoletar da crise económica e financeira com origem  muito clara nos Estados  Unidos da  América e que abrangeu práticamente todo o mundo, a questão das alterações climaticas e das medidas urgentes a tomar para  combater  a tragéda que já se previa,  estava, de facto, na chamada ordem do dia.

Nesses anos,  os alertas e as acções a tomar foram muito decisivamente impulsionados pela acção quer de Gorbatchev com a Cruz Verde Internacional a que presidia e com sede em Geneve ,  na Suiça, quer das tomadas de posição publicas em conferências e em livro, de Al Gore, o antigo Secretario de Estado Norte Americano.

Foram muitas as agendas e ordens de trabalhos do dia de inumeras reuniões, para cada grupo especializado  que, quer o Comité Economico e Social Europeu quer o próprio  Parlamento Europeu,  agendaram com pontos específicos sobre as questões climaticas.  
Participei em alguns pareceres, nessa altura, dedicados aos temas do combate  ás  alterações climáticas e das boas praticas a encetar.
Assim como , por contacto que teve na origem  o meu amigo  Presidente Mario Soares, participei com Gorbatchev na Cruz Verde Internacional, na Suiça.


Nesses tempos,  o que se escrevia e dizia  era mesmo de fazer crer que as questões climaticas iriam subir de tom, de importância e carreariam maior quantidade dos recursos disponíveis e tempos de trabalho quer do Comité Economico e Social Europeu , quer do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e do Conselho.


Aconteceu, no entanto, que em 2008  outros valores   mais alto se levantaram com o inicio da crise financeira que acabou por ser economica, igualmente.

Tudo e todos, as agendas, os Pareceres, as pessoas, os peritos, os tempos de trabalho e os recursos disponíveis, passaram a ser quase exclusivamente orientados  para  a “solução da crise”.

Quem, no entanto, mantinha a calma suficiente para pensar, parar e eleger prioridades, colocar as coisas  segundo  uma ordem de importancia, obviamente que a crise financeira   teria que ser definida como  o assunto a tratar  “de imediato” e outras questões teriam prioridade mais baixa mas não poderiam ter sido esquecidas, arredadas, quase proibidas de falar, como aconteceu com o clima.

O mesmo aconteceu com outros objectivos como, por exemplo,  a redução da pobreza ou, como na altura era designada, a Pobreza Zero.

Este foi e é o enquadramento temporal do debate e do trabalho sobre estas questões.

Mas há uma verdade muito mais cruel que  não tem sido  trazida com clareza para o debate posterior á crise.

Os efeitos das alterações climáticas eram previsiveis, eram os que agora temos visto e já conhecemos da vida real e não só dos livros ou das palestras.
Quando se dizia que  o derreter dos glaciares em grande escala, o aquecimento, os fogos florestais, os fenomenos de ondas gigantes que tudo arrasam, a perda de praias e areais bem como das habitações, aldeias costeiras e  terrenos, tendia-se tudo isso como  coisas    que eram faladas e esperadas. Só que, pensava-se até há muito poucos anos que isso seria para a geração dos netos dos nosso netos.
Afinal, grande surpresa para os distraidos, tudo isso aí está, já hoje e com  prespectiva de se agudizar e aumentar muito rapidamente.


Como tudo na vida, não valerá   a  pena reclamar ou rogar pragas a quem assim se comportou e comprta. Saber isto é um previlégio só de quem muito já viveu na vida, só de quem muitos anos de vida já tem, aqueles a quem uns maldosos  chamaram  “a praga grisalha”. Mas  lá que sabem,sabem.

Sabem que todos estes fenomenos, todas as desgraças bem como as  grandes conquistas e avanços tecnológicos e civilizacionais, são inevitavelmente aproveitados pelos  sangue-sugas  comerciais, os chamados  empreendedores, investidores e inovasdores  insaciáveis.

E, com as questões do clima, está a  passar-se  inquestionavelmente isso. 

Se  a aglutinação de pessoas em prol do combate aos maleficios humanos  em tudo o que pode interferir com o clima, é uma boa causa,  o negócio enorme que está montado e tantas vezes, como se diz que faria Frei Tomás,  procedendo exactamente em prejuizo do clima e da defesa do Planeta.



Em 2005   fiz uma longa viagem  pelo Alaska  e de visita  aos glaciares dessa  região tão a norte do Planeta.  
Tive o enorme previlégio de ver, ali ao vivo e de perto, os enormes glaciares,  o gelo a quebrar,  lindo, maravilhoso, com  um azul nunca antes por mim visto no gelo novo que permanecia quando as grandes placas quebravam e se separavam com um som ao mesmo tempo magnifico mas aterrador.  Ali, ao lado da varanda do meu camarote no navio !
Mal fazia ideia do sinal  que tudo aquilo me estava a transmitir sobre a  catastrofe  iminente.  Vi o recuo  desses   glaciares, em fotogrfias sequenciais  expostas ao publico que os visitava.  Foi o primeiro sinal sério e real  que me foi dado observar. 




Sou economista e sei que a  economia é uma ciencia social, o que significa que, quando se actua  em termos economicos,  qualquer medida tomada sobre um indicador, uma componente, vai inevitavelmente ter repercussões sobre muitas outras variaveis.  
Está demostrado, até por experiências recentes, que  o cortar rendimentos  e salários para fazer descer o endividmento,  vai imediatamente  influenciar e fazer cair o consumo das famílias e vai reduzir a procura e a produção, logo, reduzir o emprego. E , daí,  os resultados obtidos  serão  nada confortaveis para o conjunto da economia e, pior do que isso,  para o bem estar da sociedade.

Há  muito quem utilize  uma expressão  a que  fomos habituados  dizendo   que  “o que é preciso é criar riqueza”.

A mior parte das pessoas que a utilizam vezes sem conta, fazem-no com  um  intuito e conteudo  absolutamente ideológico, politico.  Utilizam a expressão “criar riqueza” para se demarcarem, oporem  ideologicamente aos  supostos  apoiantes de posições ideologicas de esquerda, socialistas ou,  sobretudo, as  de modelo comunista.  

Começou a ser muito usada a expressão ainda nos anos oitenta, por executivos, economistas  e pessoas  que procuravam  de facto  deixar claro  que se opunham á logica  de uma esquerda tradicional e  com muita força nessa altura. 
Mas não queriam dizer mais do que isso.  
Era moda e pensavam que os colocava no  topo dos  modernos investidores, empreendedores e fazedores de opinião dessa altura.

Outros, utilizavam a expressão “criar riqueza” numa logica de aumentar a produção nacional, aumentar o produto interno bruto de cada país,  incentivar e fazer crescer a economia pela  criação de valor acrescentado na produção. E, até aí, tudo bem, tudo certo.


Mas também é sabido que a economia se move ao sabor de ciclos,  uns de  crescimento e  aumento do nivel de vida, da produção, emprego e bem estar, outros de sentido exactamente oposto. 
Exactamente porque a economia é uma ciência social e os movimentos de crescimento ou decréscimo de uma variavel, vão  influenciar   várias  das  
 outras  variaveis e, por fim, conduzirem a desiquilibrios globais que fazem inverter o ciclo económico.

Aumentar a produção, a chamada criação de riqueza  a todo o momento, vai  fazer crescer igualmente  o consumo, os rendimentos, a procura , o que vai exigir ainda mais produção e dar retorno de mais salários e mais rendimentos  ás pessoas singulares  e ás empresas. Mas vai exigir a utilização maior e mais  exaustiva de recursos, quer mão de obra e maquinaria, quer de recursos naturais, minérios,  madeiras e energia. Mais exploração mineira, mais abates de arvores,  mais utilização de energias,  mesmo que elas sejam um misto de fosseis, solares, hidraulicas  e nucleares, vai   por  isso  mesmo provocar ainda mais desiquilibrios  ambientais. 
Menos florestas, menos  ecossistemas equilibrados, mais ataques á camada de ozono.

Mais produção de riqueza pode ser sinónimo de mais produção de pobreza.  

Como os recursos para produzir mais e mais são muito escassos,  a sua utilização e prospecção desenfreada levará  a mais desiquilibrios ambientais, inevitavelmente. 
E  a produção, as fábricas, não vão poder dar resposta á maior procura rapidamente instalada. Vê-se já isso com  as novas tecnologias e o aparecimento semana a semana de novas soluções e produtos que , psicologicamente, vão fazer parecer e tornar obsoletos  os  acabados de adquirir há pouco tempo.

Geram-se desperdicios  gigantescos sem justificação e o resultado só pode ser o empobrecimento   muito acelerado de recursos do planeta  e dos cidadãos. O empobrecimento objectivo e  socialmente perceptivel de toda a humanidade.


A moderação e os equilibrios entre estas  duas situações de ciclos economicos de prosperidade ou de crise, depressão, é conseguida através de “empurrões” nesse  sentido dados   pelos governos e pelas politicas economicas que executam.  
Mas tudo isso tem que ser feito com muita prudência, moderação e serenidade, para não ser  de efeito  pernicioso e  contrário, levar a maiores desiquilbrios. O que se convencionou chamar  “morrer da cura em vez de morrer da doença”.

Com o  clima, ao contrário do que tantas pessoas pensam, ou talvez nem pensem , agindo por impulsos ao sabor das modas do momento,  tudo  o que procurei dizer anteriormente é valido e tem que ser observado.

Exactamente porque o equilibrio  e a preservação  da qualidade climatica,  do abrandamento do degelo dos glaciares, dos fenómenos destruidores como os tufões,  ciclones, aquecimento global, rombos na camada de ozono e  morte dos ecossistemas como a grande barreira de corais, a Coral Reef na Australia  onde nos “bons velhos tempos mergulhei e  me  senti agradecido á Natureza,  a floresta amazonica, entre muitos outros,  só se consegue  com politicas  orientadas no sentido  ds defesa do Planeta   pela generalidade dos paisies , sobretudo os fortemente indusrializados e, muito menos, com efeito como gota  de água num oceano,  pela  abestinencia do uso de sacos ou garrafas de plstico.
E, atenção, na situação em que o planeta se encontra neste momento, tudo isso, mesmo as pequenas acções, são necessárias .
Mas que ninguém se convença que  nada resolverá Portugal ou toda  a Europa deixar de usar sacos de plastico, passar a utilizar carros electricos ou bicicletas para resolver o problema climatico.


E   estão  ainda por apurar   os efeitos que todas as novas tecnologias, virão a ter no contexto global do desiquilibrio climatico e ambiental do Planeta.  A utilização,  criação  e aumento em exponencial dos campos magneticos, das ondas electricas e outros fenomenos daí resultantes,  não está sequer estudada nem parece haver um conhecimento actual confortavel e adequado para as avaliar.

Não há muitos anos, é relativamente recente, recuemos há dez anos, a 2006, 2007  ou 2008. 
Começava   então  a falar-se  com mais preocupação  sobre o clima.  E  não se pode nunca esquecer  que nas agendas dos media  e no que é conversa de circunstancia da esmagadora maioria das pessoas, o importante é sempre  o tal “efeito moda”.  Começava a ser moda falar sobre as preocupações com o clima e o ambiente.   A onda verde  que assolava a politica  e arrecadava votos , sobretudo  na Alemanha e países  do norte da Europa, deixava antever a popularidade que o tema conseguiria alcançar e, claro, a sua tradução em votos, o que é sempre um factor importantissimo para motivar nesse preciso sentido todos os politicos e agremiações partidarias.

Mas, na verdade, ao falar-se, há dez anos atrás, no recuo dos glaciares,  no degelo, no buraco do ozono, nos fenomenos agresseivos  meterorologicos,e, muito em particular na falta de água,  nunca, penso eu, alguém no universo do cidadão comum, não da comunidade   cientifica, obviamente,  pensou  que tudo isso, toda essa conversa que fazia moda,  viesse a concretizar-se tão cedo, AGORA mesmo !


Tem acontecido tudo muito rapidamente. As tragédias  meterorologicas,  os tsunami, os ciclones, os dias de verão em que, repentinamente,  numa cidade isolada de um pacato país como o nosso, bem situado geograficamente, não demasiado exposto a factores extremos  que, em certas regiões,  possibilitam e  incrementam essas situações,  de repente, uma precipitação invulgar,  uma  queda de granizo descomunal, vão destruir os haveres de uma vida  de quem deles depende e as próprias vidas das pessoas.

Repito, há uma decada atrás, falava-se destas hipotecticas situações como  “coisas horriveis” que  o futuro  ,  talvez longinquo, poderia trazer.

Agora mesmo, aí as temos tido e a ameaça de uma muito maior frequência é muito real.

A água, com tantas culturas á mingua, com tanto gado a sofrer sem a poder beber, tornou-se já um bem dos mais escassos, em breve será coisa de ourivesaria  ou dos recantos  “gourmet” !


Querer  resolver,  mesmo que seja só em parte mas com algum significado,  a questão ambiental e a habitabilidade do Planeta,  só pode ser feito com um comprometimento e empenho politico dos principais paises industrializados e poluidores.  Sem  o comprometimento politico da China, Estados Unidos da America,  India, Japão, algumas economias do pacifico produtoras  de tudo  o que  mais atenta contra  o clima, é mera ilusão. Reduz ao ridiculo as medidas, esforços,  impulsos   e gritos lançados  de  pequenos países como Portugal, da generalidade dos paises, talvez.

Até há bem pouco tempo, por exemplo, era voz comum nos paises, decisores e nos dirigentes das empresas mais poluidoras que o mar lava tudo e  tudo desfaz. Hoje,   poucos anos volvidos, temos a prova que essa maquina de purificar como se pensava que era o mar,  está já saturda de detritos, de dejectos, de plasticos e materiais venenosos   que   levam á extinção de especies marinhas e de  ecossistemas indispensaveis á vida no Planeta.



Mas há uma realidade  por mim próprio vivida e  constatada que alerto para  que seja tida na conta merecida.
É que não é pelo facto  de  tudo só se poder resolver com  o envolvimento e compromisso politico de alguns já citados grandes países, grandes em  área, recursos, poder politico e em  agressões ao Planeta  e desaforos ambientais, que  as acções  publicas, as politicas, as manifestações e tudo, mesmo tudo,  que se possa fazer em prol deste problema que é mundial, perdem uma pontinha sequer de importancia.
Se não, recordemos a experiencia portuguesa, não de há nuitos anos,  ainda  bem viva  nas memórias das pessoas, pelo menos, da minha geração.

O derrube do regime de ditadura, o fim da guerra colonial e a  reconquista da liberdade e da democracia foram , como não poderia ter deixado de ser,  obra dos Militares de Abril, do poder das armas e do novo poder politico que esses militares deram de mãos abertas á sociedade civil de acordo com o seu programa (Programa do MFA).

Mas, nem por isso, as greves estudantis contra a ditadura e a guerra colonial,  as manifestações populares, as acções do MUD, da CDE, da candidatura de Humberto Delgado,  das canções de intervenção  ( reconhecidas pelo José Mario Branco como uma arma),  a força clandestina de tanta gente sem partido politico, ou, se quizermos, Militantes da Oposição, ou os do PCP, do PS,  da LUAR, etc,  tiveram menos importancia na solução democratica. 
Nunca fui  moaista nem  por aí perto andei.  Mas recordo uma velha máxima chinesa segundo a qual  um grande monstro  só pode ser abatido  á força, á bala, talvez. Mas   que é muito importante qualquer  pequena acção  que contra ele seja dirigida, mesmo o vergastar com  um ramo  de pequenos arbustos,  pois é mais um contributo para o seu desgaste. Mais ou menos isto pois  esta cultura politica ou ideologica nunca foi o meu forte. A ideia e o valor é esse mesmo.


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