Fui ver o filme "Le Mans 66, o duelo", o grande aparecimento do célebre e estupendo Ford GT 40.
Nesse ano, assim como nos três seguintes, vi ainda a preto e branco na televisão os momentos transmitidos em directo das vinte e quatro horas, incluindo os que antecederam a chegada.
Mas, numa declaração prévia de interesse, confesso que a chegada de Le Mans e as voltas prévias de que mais gostei e mais me fez vibrar, foi no ano de 1969, com o despique até á linha de chegada entre um Ford GT 40, pilotado por Jacky Ickx e Jackie Oliver, com o numero 6, e o Porsche 908 com o numero 64 pilotado por Hans Herrman e Gérard Larousse. Os dois completaram as mesmas 372 voltas e, sobre a meta, venceu o Ford GT 40 de Jacky Ickx ! Emocionante, fantásticas vinte e quatro horas !
Ainda hoje os retenho na memória como as chegadas e as lutas mais emocionantes que vi no desporto automóvel. Só anos mais tarde, e aí já a cores nas televisões, posso comparar com as lutas entre Ayrton Senna e Prost, com Schumacker ou com Demon Hill, na formula um.
As celebres voltas no circuito de Monte Carlo á procura da ultrapassagem, no Estoril ou em Brands Hatch. Momentos notáveis, sangue frio e um saber conduzir que arrepiava só a ver de fora da pista.
Não entendo o suficiente de cinema para deixar uma critica ao filme que vi esta tarde.
Para isso, há os especialistas na sétima arte, os críticos e os realizadores. Poderei pedir a opinião a dois bons amigos que tenho nessa área. Um, o realizador Antonio Pedro Vasconcelos, o outro, o Mario Augusto.
Mas, francamente, não me interessa muito saber da valia tecnico deste filme.
Gostei, gostei mesmo muito e emocionei-me, até.
Tem uma história, tem um enredo, tem um fio que se segue com agrado do inicio ao fim.
Afinal, é a a história do desenvolvimento e aparecimento nada menos que o Ford GT 40 !
Cenas filmadas dentro dos carros, em corrida, em pista, hoje possíveis com uma qualidade que ainda há uns quinze ou vinte anos não acreditavas ser possivel. E, isso, permite-nos ver o filme a a condução na primeira pessoa, torna-nos quase num piloto em acção real.
Mas, confesso, emocionei-me mesmo quando mostraram a sequência de entrada no portão da fábrica da Ferrari em Maranello. Depois, no interior, os carros alinhados em fila e as explicações que ali tudo é feito manualmente, carinhosamente, um a um como peça única que cada carro é.
Recordo a minha entrada nesse portão da fábrica da Ferrari em Maranello, numa visita privada como convidado da marca. Entrei com o meu carro da altura, um Fiat Mirafiori, cor de vinho, em viagem pela Europa, desde Lisboa.
Comigo ia o meu filho Nuno Carlos Martins, hoje piloto de aeronaves, e o o primo Luis Santiago Baptista, hoje arquitecto. A minha mulher, nessas coisas, não participa e ficou lá sossegada, dentro do carro.
Vimos aquela fila de carros á espera de acabamento definido ou das ultimas afinações. De vez em quando, algum ia lá fora á pista. voltava e ficava no alinhamento. De imediato, duas ou três empregadas vinham limpar muito bem com panos que pareciam de flanela vermelha, também, da cor de todos eles.
Uma tarde de parar as respirações e, na altura, sem a noção precisa do valor e da raridade que aquela experiência seria para cada um de nós. Um adulto e dois adolescentes, os três grandes adeptos do desporto automóvel e de bons carros.
Saí de Maranello com o livro da vida de Enzo Ferrari, oferecido pelo próprio Commendatore Enzo Ferrari, que ainda guardo e só raramente lhe passo os olhos ou coloco as mãos. As relíquias acabam por ficar assim, sem se lhes tocar.
Não creio que houvesse naquela sala de cinema, esta tarde e em muitas outras, no Colombo, alguém que se possa ter emocionado como me aconteceu. Alguém que tenha tido a felicidade de viver aquela minha experiência. E, também, não a contei nunca, como hoje, assim, em publico.
Ficam algumas fotos dessa visita, elas também preciosas.
O meu Fiat da altura
O Luis, eu e o Nuno
Eu e um Ferrari mais antigo
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