Comité Económico e Social Europeu
REX/307 O papel dos CES e de instituições similares na nova governação económica, social e ambiental mundial |
N.º 9/2011 | Bruxelas, 11 de Janeiro de 2011 |
CONVOCATÓRIA SECÇÃO ESPECIALIZADA DE RELAÇÕES EXTERNAS Grupo de estudo para "O papel dos CES e de instituições similares na nova governação económica, social e ambiental mundial" |
Carlos Pereira Martins, presidente, convida V. Exa. a assistir à 3.ª reunião do grupo de estudo em epígrafe a realizar na sede do Comité, rue Belliard, 99, 1040 Bruxelas (sala JDE 60), em 12 de Janeiro de 2011, das 14h30m às 18h00m.
Projecto de ordem do dia:
1. Aprovação da ordem do dia
2. Apresentação do anteprojecto de parecer revisto R/CESE 1506/2010 rev. pela relatora, Madi Sharma
3. Debate
4. Diversos
5. Data da próxima reunião.
Línguas de trabalho: | EN/FR/IT/HU | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Interpretação: | EN/FR/IT/HU – EN/FR/IT/HU Comité Económico e Social Europeu
Bruxelas, 7 de Janeiro de 2011
Em 16 de Fevereiro de 2010, o Comité Económico e Social Europeu decidiu, nos termos do artigo 31.º do Regimento, incumbir a Secção Especializada de Relações Externas da redacção de um relatório de informação sobre O Papel dos Conselhos Económicos e Sociais e de Instituições Similares na Nova Governação Económica, Social e Ambiental Mundial. Os trabalhos preparatórios foram realizados pelos membros e peritos, em cooperação com a relatora, a co‑relatora e os grupos. O grupo de estudo reuniu‑se em: - 1 de Julho de 2010 - 3 de Dezembro de 2010. A secção adoptou o relatório de informação em.... * * * 1. Síntese1.1 Os conselhos económicos e sociais (CES) representam grandes parcelas da sociedade civil. São órgãos consultivos que prestam apoio a instituições globais, em particular preenchendo a lacuna sempre que o diálogo da sociedade civil é essencial. São especialistas em sectores como os assuntos sociais, a agricultura, as pescas, o ambiente, a mudança industrial, os transportes e a política económica. Muitos CES operam a um nível global através de mesas-redondas de diálogo bilateral e multilateral.1.2 Contudo, os decisores, políticos ou institucionais, que declaram tomar parte na "governação participativa" não reconhecem o valor, a credibilidade ou o impacto dos CES, que têm um papel importante e legítimo a desempenhar, que não é preenchido pelo processo eleitoral.O papel dos CES na "nova governação económica, social e ambiental mundial" deve ser visto no contexto dos desafios sem precedentes enfrentados pelas sociedades civis que estes organismos representam, nomeadamente: - a regulação económica, - a estabilidade financeira, - a resolução de crises políticas e - as alterações climáticas. Levanta-se a questão de saber o que constitui esta "nova" era de governação. Em que se distingue o novo modelo do antigo? A "nova" governação exige uma nova abordagem, que abarque a igualdade, a transparência e a responsabilização e que apoie, a nível global, a voz dos intervenientes sociais no terreno. A governação mundial trata da regulação da globalização através de padrões comuns para todos e em benefício de todos, num mundo multipolar. 1.3 Por conseguinte, os CES devem estabelecer, independente e colectivamente, um objectivo global que oriente as suas actividades, para tornar claro o que fazem e porquê, e como pretendem ser incluídos no processo de decisão. Devem almejar satisfazer os seguintes papéis na governação participativa:- Instrumento para definir as agendas pertinentes – Usar a rede de CES para identificar questões nacionais ou globais que são tratadas de forma ineficaz pelas actuais ferramentas de governação. Para tal, seriam realizadas sessões de informação e consultas periódicas sobre a nova estratégia internacional prevista pelas organizações internacionais (G20, FMI, Banco Mundial, OIT, Nações Unidas, etc.) e sobre os acordos comerciais sustentáveis que promovam os direitos humanos, a sustentabilidade e o envolvimento da sociedade civil. Isto deve incluir uma apreciação das questões que põem em risco os modelos económico, social e ambiental, como por exemplo, a migração; - Ênfase em questões descuradas – Assegurar que os debates políticos importantes, como a segurança alimentar, o trabalho digno e a reforma dos mercados financeiros, se mantenham na ordem do dia, e não estagnem; - Promover a participação dos cidadãos – Através dos seus muitos contactos com a sociedade civil, os CES podem encorajar a participação dos cidadãos nos principais debates políticos com impacto directo nos cidadãos. Não se dá suficiente atenção às opiniões dos jovens e das crianças, quando as decisões tomadas hoje afectam o seu futuro. Aqui o exemplo europeu é dado pela iniciativa de cidadania, introduzida pelo Tratado de Lisboa, que permite aos cidadãos influenciar a política; - Estratégia prospectiva – Os CES podiam reunir análises e recomendações antes dos debates políticos e dar um contributo importante desde o início dos debates. Isto poderia abranger temas relacionados com as políticas comerciais e agrícolas e o equilíbrio entre a solidariedade interna e internacional; - Melhorar os mecanismos de formulação de políticas – O fito dos CES poderia ser melhorar os mecanismos, dia a dia, por exemplo, através da iniciativa "Legislar melhor". Isto poderia ser desenvolvido e tornado operacional em todos os níveis, ou seja no contexto da União para o Mediterrâneo, da ASEAN, do alargamento da UE e do acompanhamento das negociações bilaterais com agrupamentos regionais, por exemplo, o acordo de parceria económica com os países ACP; - Visão Especializada – Como membros de organizações de empregadores, de sindicatos e de grupos de interesses diversos, os CES dispõem de conhecimentos especializados em áreas como a política social (livre circulação de trabalhadores e crise financeira), o desenvolvimento sustentável (Europa 2020), a cooperação e políticas externas de apoio à democratização e aos direitos humanos; - Centros de perícia – Os CES podem desenvolver centros de excelência globalmente reconhecidos em determinados domínios políticos. O Comité Económico e Social Europeu desenvolveu alguns destes domínios através de comissões permanentes: Observatório do Mercado de Trabalho, Observatório do Desenvolvimento Sustentável e Comissão de Acompanhamento para os Direitos Humanos e o Desenvolvimento. 1.4 São necessárias novas soluções que adicionem valor, transparência e responsabilidade aos mecanismos existentes, em vez de criar novas estruturas. Há que descentralizar as estratégias de comunicação, as quais devem informar e envolver os cidadãos. Sempre que haja estratégias políticas internacionais decididas à porta fechada, é essencial convidar os CES para contribuírem para o debate e, assim, pôr na mesa os pontos de vista da sociedade civil em matéria económica, social e ambiental.1.5 Os CES devem dar o exemplo ao manterem a transparência, a responsabilidade e a igualdade e ao serem órgãos consultivos dinâmicos. Se desejam assumir o papel de guardiães da voz da sociedade civil, é fundamental que sejam credíveis. Neste contexto, o seu principal desafio será a igualdade entre homens e mulheres, que deverá ser abordada para eliminar as barreiras que impedem que a voz das mulheres, enquanto intervenientes plenamente empenhadas na sociedade civil, tenha o mesmo peso. O "empoderamento das mulheres", que abarca o reforço do papel da mulher na sociedade, já foi objecto de atenção pormenorizada pela maioria dos CES, e a própria UE tem planos de acção para promover a igualdade dos géneros e o empoderamento das mulheres na Europa e nos países em desenvolvimento. Contudo, a paridade política e uma verdadeira democracia e igualdade não serão conseguidas sem mandatos legais reclamando a igualdade de representação.Introdução 1.6 Fundada em 1999, a Associação Internacional dos Conselhos Económicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS) é composta por aproximadamente 60 membros oriundos de quatro continentes (África, América Latina, Ásia e Europa). O CESE é membro fundador da AICESIS, participando na preparação de posições comuns através dos contributos prestados para a elaboração de projectos de relatórios e de declarações finais sobre temas seleccionados pelos membros da AICESIS.1.7 O Conselho de Administração da AICESIS solicitou aos seus membros a elaboração de um relatório sobre "O Papel dos CES e Instituições Similares na Nova Governação Económica, Social e Ambiental Mundial", centrado em quatro prioridades:- economia, globalização, mercado de trabalho; - indicadores de desenvolvimento; - ambiente; - governação. 1.8 Trata-se de temas convergentes que coexistem com as principais questões relativas à globalização e à governação. O CESE já emitiu vários pareceres sobre estes temas e elaborará um relatório de informação até Fevereiro de 2011, que será o seu contributo para o relatório da AICESIS, a apresentar em Roma, em Novembro de 2011.1.9 O presidente da AICESIS, António Marzano, destacou que a AICESIS se interessa pela governação, porque é o fórum natural para debate e troca de ideias pelos organismos sociais nacionais; oferece uma "visão de mais longo prazo" do que os órgãos políticos; é uma plataforma de reflexão onde podem ser debatidas e posteriormente tomadas medidas adequadas; e opera com base no consenso o mais amplo possível dentro da sociedade civil organizada.1.10 O exemplo do processo de integração europeia e os valores a ela associados levou a resultados concretos em termos de paz, prosperidade e Estado democrático. Estes valores podem fornecer indicações úteis para a futura governação mundial:- partilha de poder para evitar concentrações indevidas de poderes; - solidariedade entre os ricos e os pobres; - livre circulação de pessoas; - reciprocidade; - responsabilidades comuns mas diferenciadas; - procura de um interesse comum europeu para além dos interesses nacionais; - transferência de poderes para o nível supranacional (comércio); - criação do CESE ao abrigo do Tratado de Roma. Relativamente à desigualdade entre homens e mulheres, o CESE considera que deveria ser uma prioridade da governação, pois já foi debatida por inúmeras vezes, mas nunca se torna realidade. 2. Economia, globalização, mercado de trabalho (A)2.1 A sociedade civil organizada deve promover uma globalização "de rosto humano". O CESE sublinha a necessidade de envolver plenamente os parceiros sociais e os diferentes intervenientes que representam a sociedade civil organizada e de incluir sempre a voz dos mais vulneráveis. A consecução da globalização com uma dimensão humana assim como da integração europeia são questões que envolvem as pessoas e a sociedade civil organizada. Se estiverem bem informados e se forem consultados e sistematicamente envolvidos, os povos da Europa aceitarão uma estratégia por eles moldada e reconhecida como a via de realização de soluções eficientes e pragmáticas que são equitativas e justas para todos.2.2 A nível internacional, a UE deve reagir à globalização contribuindo mais energicamente para a criação de um "Estado de direito", fundado em princípios democráticos, que promova uma globalização humanista baseada no multilateralismo, nos direitos fundamentais dos indivíduos e na sustentabilidade. Tem de realçar a importância de uma abordagem da globalização baseada em valores e assente em conceitos que constituem a essência da economia de mercado social, como a transparência, a integridade, a dignidade humana, a igualdade e a liberdade, os direitos fundamentais dos sindicatos e dos trabalhadores, as relações laborais sólidas e um elevado nível de protecção social. Estes conceitos consolidam os elementos fundamentais da abordagem da UE à globalização:- estruturas institucionais sólidas, - serviços públicos e serviços de interesse geral eficientes; - diálogo social e civil reforçado, - investimento em capital humano, - qualidade do emprego. 2.3 Uma das prioridades deve ser a promoção dos direitos humanos e do trabalho digno, o que implica o desenvolvimento de uma política de empregos produtivos e sustentáveis.2.4 Há que considerar novos modelos de crescimento económico e de sustentabilidade, como a redinamização da economia local e das pequenas empresas e a promoção de práticas ecológicas.2.5 O CESE pode desempenhar um papel de liderança a nível internacional para reformar radicalmente o comércio, o mercado de trabalho, as ajudas ao desenvolvimento e os sistemas de investimento. O CESE apoia a criação e a adopção de novos mecanismos inovadores de financiamento do desenvolvimento.2.6 Os CES podem desempenhar um papel importante nos mecanismos a criar para monitorizar os acordos de comércio livre internacionais, os quais incluem agora cláusulas de sustentabilidade e de direitos humanos, a par de um fórum de consulta da sociedade civil. Os resultados revelam que o processo de monitorização é assimétrico e que a consulta não é obrigatória. Os CES ofereceriam um sistema integrado congregando todas as partes interessadas pertinentes. Juntos poderiam definir um mandato de negociação e estabelecer um mecanismo para medir o impacto decorrente da aplicação de um acordo. Este mecanismo teria poder de instrução em caso de avaliação de impacto negativa, que assumiria a forma de relatórios e recomendações desembocando num plano de acção vinculativo "mutuamente aceitável".2.7 Os CES têm um mandato colectivo para assegurar que tanto governos como empresas reconheçam que, moralmente, a responsabilidade social das empresas se estende para além das fronteiras da Europa. O impacto da produção, os seus custos sociais, a exportação e o tratamento dos resíduos não só afectam os países terceiros, mas também a humanidade e o ambiente a nível global.2.8 A fim de apoiar o envolvimento da sociedade civil na dimensão social da governação, urge reformar toda a legislação que entrave a liberdade de associação de redes de empresários, de sindicatos e de grupos de interesses diversos. Para apoiar este esforço, o CESE criou um Grupo de Ligação com as Organizações e Redes Europeias da Sociedade Civil, que pode servir de exemplo para outros países.3. Indicadores de desenvolvimento (B)3.1 Nunca, na curta história da humanidade, tantas pessoas foram confrontadas com tantos desafios. A nível global, a agitação social não tem precedentes. A globalização não é universalmente aceite nem é um sistema democrático de governação. Muitos países são afectados pela desigualdade de acesso a recursos naturais limitados ou em escassez. Culturalmente, os sistemas de valores variam enormemente e o PIB nem sempre é a principal prioridade.3.2 Para se alcançar uma governação participativa, é vital que as barreiras sejam removidas para permitir o pleno acesso, inclusive dos mais vulneráveis. A forma como uma sociedade trata os seus cidadãos mais vulneráveis é uma marca do sistema de valores dessa mesma sociedade. Mas alguns são menos iguais do que outros. Cerca de 70% das pessoas que vivem em pobreza são mulheres. Muitos países não dão resposta à discriminação generalizada enfrentada pelas mulheres no que respeita ao acesso à alimentação, água, saneamento e habitação. Em tempos de guerra, de catástrofes ambientais ou de colapso da economia, são frequentemente as mulheres as primeiras vítimas. São também elas as que sofrem mais e por mais tempo.3.3 É essencial proceder a uma nova determinação do valor dos indivíduos não só como unidades de produção económica, mas também como a soma total de benefícios que o indivíduo traz à sociedade. Em simultâneo com a nova determinação do valor dos indivíduos, tem de se proceder a uma nova determinação do valor do PIB à medida que forem sendo identificados novos indicadores, que devem permitir aos responsáveis políticos atribuir ao desenvolvimento do capital de humanidade e à protecção do capital imobilizado dos recursos naturais o mesmo valor que atribuem ao crescimento económico contínuo. |
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